terça-feira, 24 de março de 2015

O Lado Negro da Força: Carabinas PCP - Parte 3



Em meu último post sobre este assunto, comentei um pouco sobre como foram os testes de velocidade x pressão, e que me ajudaram a determinar com mais exatidão os tiros úteis e as pressões máximas com que eu deveria trabalhar.

Por essa época eu somente tinha acesso à bomba original da Benjamin, comprada juntamente com a carabina. Esta sempre me serviu bem, nunca apresentando nenhum tipo de defeito. Como a pressão de trabalho é baixa (máxima de 2000PSI, mas mais exatamente 1700PSI na minha carabina), enchê-la com ar sempre foi uma tarefa simples: com cerca de umas 50 bombadas, você traz a pressão de uns 900PSI para 1700PSI, e isso não é cansativo nem extenuante. Eu, que havia lido sobre gente perder o fôlego de tanto esforço, ou usar adjetivos cruéis para qualificar o uso de uma bomba, sempre achei graça ao comparar com o nível de esforço necessário na Discovery.

Um probleminha persistia: a carabina estava vazando! Não de um dia para outro, mas depois de uma semana, a pressão inicial de 1700PSI já estava na casa de 1200PSI. Perguntei a ninguém menos do que o próprio Tom Gaylord, que me instruiu a lubrificar antes o conector para que qualquer impureza fosse varrida pelo ar entrante, e assim a válvula se fecharia a contento. Esse é o principal motivo de vazamentos em PCPs, e que é facilmente resolvido dessa maneira. Bem, tentei de tudo, e nada resolvia. O teste de bolhas de sabão me mostrava que o ponto de vazamento realmente era a válvula, e era difícil de detectar, pois a quantidade que vazava era muito pequena.

Eis que um dia estou no meu clube de tiro e me deparo com um colega atirando com sua PCP e com seu cilindro de ar. Eu nunca havia usado um, e pedi a ele que me explicasse como usá-lo. Peguei minha Discovery, conectei a mangueira, e ele me disse: "agora abra a válvula lentamente!

Vapt! Abri como quem abre a torneira da cozinha! A pressão ficou pouca coisa abaixo dos 2000PSI preconizados pelo fabricante para a Discovery, e meu colega com cara cara de assustado, me explicando o que ele queria dizer com lentamente... Foi mal...

Só atirei um pouquinho com a arma depois disso, e carreguei mais umas duas vezes antes de ir embora (para os atiradores de armas de fogo, um aviso: carabina de ar é assim mesmo: atirar um pouquinho significa menos de uns 200 tiros!). Ao chegar, guardei a arma em meu cofre, costumeiramente mantendo uma pressão de aproximadamente 1700PSI. 

Na semana seguinte, percebi que não havia vazado nada. Nadinha! Nem mesmo 100PSI, que é normal pelo resfriamento do ar comprimido que aqueceu durante o enchimento. O vazamento estancou! Ou seja, graças ao ar do cilindro, qualquer sujeira presente na válvula se desprendeu e assim a carabina deixou de vazar.

A partir desta constatação, passei a cuidar ainda melhor da minha bomba. Sempre lubrificada (mas não em excesso), com um saco plástico protegendo a mangueira e o conector, e sempre bombando antes para se livrar da poeira. Isso ajuda a prevenir novos vazamentos pela válvula.

Mas isso não é tudo, nessa conversa de bomba x cilindro. Este mesmo colega, após algum tempo, apareceu de novo no clube, só que desta vez, sua carabina (uma Marauder) precisava de ar e seu cilindro já estava ficando vazio. Tem solução? Tem, empresta a bomba do Fred. 

Lá foi meu colega bombear até encher a Marauder a 3000PSI. Confesso que nunca vi um cara suar tanto! Eu fui ajudá-lo, e quase tive que montar em cima da bomba para colocar mais 100PSI. Até por volta dos 2500PSI, bombear vai bem... depois disso, meu amigo, é castigo!

Perguntei então se ele sabia qual era a pressão de preenchimento ideal para a sua carabina, se ele havia feito os testes com cronógrafo (vide parte -2). Como não havia feito, ele sempre encheu sua arma conforme o manual, ou seja até 3000PSI. A rigor, nada de errado nisso, mas talvez ele não precisasse se esforçar tanto para ter um desempenho aceitável. Pior, talvez todo esse esforço sequer estivesse dando-lhe o melhor desempenho possível de sua arma.

Ele nunca havia pensado nisso. Usando um cilindro exclusivamente, nunca foi necessário qualquer esforço para encher a sua Marauder. Então ele também nunca pensou talvez ela gostasse mais de uma pressão de trabalho menor.

Isso me serviu de novo para abrir os meus olhos. Uma boa parte dos atiradores de PCPs não sabem como tirar seu melhor desempenho, ou simplesmente acreditam no que lêem, seja no manual, seja em algum fórum. Se você está lendo isso, não se limite àquilo que eu fiz. Faça o teste você mesmo. E depois, comente o que você descobriu. Você se surpreenderá com o que irá aprender.

Mas o que eu não havia percebido até esse dia era a diferença entre usar um cilindro e uma bomba manual, mesmo numa carabina como a Discovery. Realmente, o cilindro é muito melhor e mais fácil de usar... enquanto ele está cheio! Vazio, ele é um peso morto total. Óbvio, você vai dizer... mas a questão é que ele esvazia nos piores momentos, e se você só tem o cilindro, sua sessão de tiros acabou ali. Até que você possa levá-lo a uma loja de mergulho e enchê-lo novamente, ele é só um peso morto.

Outra coisa que eu percebi é que o cilindro é extremamente pesado. Eu achava que a bomba manual era incômoda para se levar, mas o cilindro, pelo menos do tipo usado pelo meu amigo, era extremamente pesado e impossível de ser carregado. Não é o tipo do equipamento que você leva consigo em suas andanças pelo mato. Eu já fui com amigos atirar em alvos de oportunidade em campo, e com minha Discovery, eu tinha 20 tiros úteis antes de precisar enchê-la novamente. Também confesso que não levei minha bomba, optei por deixá-la no meu carro.

Outra coisa ficou muito clara: enquanto a bomba não dá manutenção nenhuma, o cilindro exige um cuidado todo especial. Para início de conversa você só consegue carregá-lo se ele tiver sido aprovado em um teste hidrostático, para detectar micro fissuras que afetam a integridade do cilindro, de modo que ele não vá explodir ao ser carregado. Além disso, ele pode acumular água, e se for esse o caso, tem que ser esvaziado completamente para retirar essa água de lá, sob pena de haver início de corrosão, e consequente dano estrutural. Enfim, o cilindro é coisa séria, e deve ser tratado como tal. Por isso mesmo seu custo é alto. Sua grande vantagem reside na facilidade de uso. Até este momento, ainda não me convenci a comprar um.

Na próxima parte, vou comentar um pouco mais sobre a questão que mais me atiçou a entrar no Lado Negro da Força: será que as PCPs são realmente tão mais precisas e potentes que as carabinas de pistão-e-mola?

Até lá, bons tiros.

Um comentário:

  1. Fred,
    estou aguardando por mais comentários. O comparativo de pressão útil e equipamentos para enchimento me deixou com dúvidas. Pensei em um tanque menor e mais leve. Entretanto ainda sonho com uma PCP e acredito ser uma TX200 ainda uma melhor escolha.
    Minha paixão mesmo é .22lr, mas é tanta burocracia e munição ruim...
    Parabéns pela iniciativa.

    ResponderExcluir

Obrigado por seu comentário. Ele será revisado e em breve será publicado.