terça-feira, 24 de março de 2015

O Lado Negro da Força: Carabinas PCP - Parte 3



Em meu último post sobre este assunto, comentei um pouco sobre como foram os testes de velocidade x pressão, e que me ajudaram a determinar com mais exatidão os tiros úteis e as pressões máximas com que eu deveria trabalhar.

Por essa época eu somente tinha acesso à bomba original da Benjamin, comprada juntamente com a carabina. Esta sempre me serviu bem, nunca apresentando nenhum tipo de defeito. Como a pressão de trabalho é baixa (máxima de 2000PSI, mas mais exatamente 1700PSI na minha carabina), enchê-la com ar sempre foi uma tarefa simples: com cerca de umas 50 bombadas, você traz a pressão de uns 900PSI para 1700PSI, e isso não é cansativo nem extenuante. Eu, que havia lido sobre gente perder o fôlego de tanto esforço, ou usar adjetivos cruéis para qualificar o uso de uma bomba, sempre achei graça ao comparar com o nível de esforço necessário na Discovery.

Um probleminha persistia: a carabina estava vazando! Não de um dia para outro, mas depois de uma semana, a pressão inicial de 1700PSI já estava na casa de 1200PSI. Perguntei a ninguém menos do que o próprio Tom Gaylord, que me instruiu a lubrificar antes o conector para que qualquer impureza fosse varrida pelo ar entrante, e assim a válvula se fecharia a contento. Esse é o principal motivo de vazamentos em PCPs, e que é facilmente resolvido dessa maneira. Bem, tentei de tudo, e nada resolvia. O teste de bolhas de sabão me mostrava que o ponto de vazamento realmente era a válvula, e era difícil de detectar, pois a quantidade que vazava era muito pequena.

Eis que um dia estou no meu clube de tiro e me deparo com um colega atirando com sua PCP e com seu cilindro de ar. Eu nunca havia usado um, e pedi a ele que me explicasse como usá-lo. Peguei minha Discovery, conectei a mangueira, e ele me disse: "agora abra a válvula lentamente!

Vapt! Abri como quem abre a torneira da cozinha! A pressão ficou pouca coisa abaixo dos 2000PSI preconizados pelo fabricante para a Discovery, e meu colega com cara cara de assustado, me explicando o que ele queria dizer com lentamente... Foi mal...

Só atirei um pouquinho com a arma depois disso, e carreguei mais umas duas vezes antes de ir embora (para os atiradores de armas de fogo, um aviso: carabina de ar é assim mesmo: atirar um pouquinho significa menos de uns 200 tiros!). Ao chegar, guardei a arma em meu cofre, costumeiramente mantendo uma pressão de aproximadamente 1700PSI. 

Na semana seguinte, percebi que não havia vazado nada. Nadinha! Nem mesmo 100PSI, que é normal pelo resfriamento do ar comprimido que aqueceu durante o enchimento. O vazamento estancou! Ou seja, graças ao ar do cilindro, qualquer sujeira presente na válvula se desprendeu e assim a carabina deixou de vazar.

A partir desta constatação, passei a cuidar ainda melhor da minha bomba. Sempre lubrificada (mas não em excesso), com um saco plástico protegendo a mangueira e o conector, e sempre bombando antes para se livrar da poeira. Isso ajuda a prevenir novos vazamentos pela válvula.

Mas isso não é tudo, nessa conversa de bomba x cilindro. Este mesmo colega, após algum tempo, apareceu de novo no clube, só que desta vez, sua carabina (uma Marauder) precisava de ar e seu cilindro já estava ficando vazio. Tem solução? Tem, empresta a bomba do Fred. 

Lá foi meu colega bombear até encher a Marauder a 3000PSI. Confesso que nunca vi um cara suar tanto! Eu fui ajudá-lo, e quase tive que montar em cima da bomba para colocar mais 100PSI. Até por volta dos 2500PSI, bombear vai bem... depois disso, meu amigo, é castigo!

Perguntei então se ele sabia qual era a pressão de preenchimento ideal para a sua carabina, se ele havia feito os testes com cronógrafo (vide parte -2). Como não havia feito, ele sempre encheu sua arma conforme o manual, ou seja até 3000PSI. A rigor, nada de errado nisso, mas talvez ele não precisasse se esforçar tanto para ter um desempenho aceitável. Pior, talvez todo esse esforço sequer estivesse dando-lhe o melhor desempenho possível de sua arma.

Ele nunca havia pensado nisso. Usando um cilindro exclusivamente, nunca foi necessário qualquer esforço para encher a sua Marauder. Então ele também nunca pensou talvez ela gostasse mais de uma pressão de trabalho menor.

Isso me serviu de novo para abrir os meus olhos. Uma boa parte dos atiradores de PCPs não sabem como tirar seu melhor desempenho, ou simplesmente acreditam no que lêem, seja no manual, seja em algum fórum. Se você está lendo isso, não se limite àquilo que eu fiz. Faça o teste você mesmo. E depois, comente o que você descobriu. Você se surpreenderá com o que irá aprender.

Mas o que eu não havia percebido até esse dia era a diferença entre usar um cilindro e uma bomba manual, mesmo numa carabina como a Discovery. Realmente, o cilindro é muito melhor e mais fácil de usar... enquanto ele está cheio! Vazio, ele é um peso morto total. Óbvio, você vai dizer... mas a questão é que ele esvazia nos piores momentos, e se você só tem o cilindro, sua sessão de tiros acabou ali. Até que você possa levá-lo a uma loja de mergulho e enchê-lo novamente, ele é só um peso morto.

Outra coisa que eu percebi é que o cilindro é extremamente pesado. Eu achava que a bomba manual era incômoda para se levar, mas o cilindro, pelo menos do tipo usado pelo meu amigo, era extremamente pesado e impossível de ser carregado. Não é o tipo do equipamento que você leva consigo em suas andanças pelo mato. Eu já fui com amigos atirar em alvos de oportunidade em campo, e com minha Discovery, eu tinha 20 tiros úteis antes de precisar enchê-la novamente. Também confesso que não levei minha bomba, optei por deixá-la no meu carro.

Outra coisa ficou muito clara: enquanto a bomba não dá manutenção nenhuma, o cilindro exige um cuidado todo especial. Para início de conversa você só consegue carregá-lo se ele tiver sido aprovado em um teste hidrostático, para detectar micro fissuras que afetam a integridade do cilindro, de modo que ele não vá explodir ao ser carregado. Além disso, ele pode acumular água, e se for esse o caso, tem que ser esvaziado completamente para retirar essa água de lá, sob pena de haver início de corrosão, e consequente dano estrutural. Enfim, o cilindro é coisa séria, e deve ser tratado como tal. Por isso mesmo seu custo é alto. Sua grande vantagem reside na facilidade de uso. Até este momento, ainda não me convenci a comprar um.

Na próxima parte, vou comentar um pouco mais sobre a questão que mais me atiçou a entrar no Lado Negro da Força: será que as PCPs são realmente tão mais precisas e potentes que as carabinas de pistão-e-mola?

Até lá, bons tiros.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Como atirar bem com sua Carabina de Pressão



Fato: a maioria dos atiradores acredita que se deve atirar com carabinas de ar e de fogo do mesmo modo. Erro clássico que leva à decepções, falta de interesse e geralmente em generalizações, do tipo "carabina de pistão-e-mola não são precisas".

É uma pena, pois muita carabina de ar por aí, de potência apenas mediana, é capaz de atirar muito melhor de que carabinas .22LR. Até bem pouco tempo atrás, se competia em alto nível usando  apenas carabinas de pistão-e-mola, e não estou falando de Gas Rams...

Existem alguns fatores a considerar quando você vai atirar com uma carabina de ar, especialmente as de pístão-e-mola, mas que também valem para todos os tipos de mecanismos. Como a imensa maioria das carabinas de ar vendidas no mundo são do tipo pistão-e-mola e de cano basculante (break-barrel),  é nesse tipo de ação que vou me concentrar neste post, mas lembre-se que muito disso também é válido para outros mecanismos.

O que é precisão?

Primeiramente, vamos nivelar nosso vocabulário. Precisão e exatidão são dois termos que, se olharmos em algum dicionário, você verá serem usados como sinônimos. Mas, na Engenharia (eu sou Engº Mecânico de formação), os termos têm aplicações técnicas distintas.

Precisão (Precision) é definida como sendo a proximidade de uma medição em relação à outras medidas tomadas. Ou seja, o quão próximos entre si estão vários valores medidos.

Exatidão (Accuracy) é a proximidade de uma medida em relação a um valor de referência.

Essas definições valem tanto para medições de peso feitas em um laboratório quanto para resultados de nossos tiros em alvos de papel.

Veja a imagem abaixo.



O primeiro alvo da esquerda mostra alta precisão e alta exatidão, ou seja, os tiros estão todos no centro e todos muito próximos entre si. Já no segundo alvo, a precisão continua alta, mas a exatidão não, pois os tiros caíram fora do centro (valor de referência). No terceiro, os tiros estão mais dispersos, porém continuam centrados ou seja, baixa precisão, mas alta exatidão. Por fim, no último alvo da direita, temos alta dispersão e fora do centro, ou seja, baixas precisão e exatidão.

Como atiradores, intuitivamente sabemos que, ao encontrar um alvo como o segundo (alta precisão-baixa exatidão), basta ajustar as miras e você terá o resultado ideal, portanto, um bom grupamento é essencial (alta precisão). Um situação como a exemplificada no terceiro alvo não é a ideal, pois a dispersão indica uma variabilidade de resultados que podem nos levar ora a acertar bem no centro do alvo, como também acertar bem longe deste. Daí a importância dos grupamentos bem fechados e pequenos.

Portanto, quando falamos aqui em precisão, é isso que estamos buscando: grupamentos pequenos, sem necessariamente importar o local do alvo onde ele esteja. Um alvo como o segundo, nesse exemplo, para nós é em princípio, suficiente. Depois veremos os fatores que afetam a exatidão, e que podem surpreender a muitos.

Tolerância

Ainda resgatando minha experiência como Engenheiro, deixe-me explicar um pouco sobre o que é tolerância. Toda a peça técnica é desenhada tendo um conjunto de medidas que a descrevem para quem for fabricá-las. Produzir essa peça com medidas exatamente iguais às do desenho é possível, mas provavelmente será muito caro. Por isso, aceitam-se variações dessas medidas, para mais ou para menos. Isso é chamado de tolerância.

Pegue por exemplo um cano. Um diâmetro é especificado como sendo de 6,01mm +/- 0,01. O que significa isso? Que esse cano pode ter uma medida variando de 6,00mm até 6,02mm. Qualquer medida fora desses valores e a peça não será aprovada. Claro que, quanto mais apertada forem as tolerâncias, maior será a dificuldade de produzir peças dentro dos valores especificados.

Isso é um dos indicativos do porque certas armas do mesmo fabricante e do mesmo modelo e calibre apresentam resultados diferentes entre si. Quanto maiores forem as tolerâncias permitidas pelo fabricante, maior será a diferença entre o desempenho delas.

Se você pensar que também as munições foram produzidas tendo uma faixa de tolerância, fica fácil entender o que está acontecendo quando você testa um novo tipo de chumbinho, por exemplo. Se seu cano tinha (para continuar no exemplo acima) 6,02mm de diâmetro interno, e o chumbinho comprado por você tinha 6,00, a folga existente não permitirá que ele se ajuste ao cano e sua precisão provavelmente não será boa o bastante.

Claro que o exemplo acima é apenas didático, e as tolerâncias de peças como canos e projéteis são muito mais fechadas, e isso é parte do segredo industrial de cada fabricante, portanto você não encontrará essa informação facilmente no Google.

Agora que entendemos o que é Precisão, Exatidão e Tolerância, podemos começar a avaliar os fatores que direta ou indiretamente afetam nossos tiros.

Fatores que afetam a precisão

Normalmente eu identifico cinco fatores que afetam a precisão e exatidão do tiro numa carabina de ar. Estou aqui me referindo somente aos fatores internos da carabina, e não vou aqui comentar sobre a balística externa, ou seja o que acontece com o projétil depois que ele sai do cano até que ele chegue ao seu alvo. Vamos nos concentrar primeiro na balística interna, ou seja tudo o que acontece entre o premir do gatilho até que o projétil deixe o cano. Há ainda a balística terminal, que trata do que acontece a partir do momento em que o projétil toca o alvo até sua parada completa.

Qualidade do Cano: Já vimos que as tolerâncias de fabricação são um fator chave, mas a qualidade de um cano não está somente em ter tolerâncias apertadas, mas também a uniformidade do diâmetro, do raiamento, da coroa (a "boca" do cano, onde termina o raiamento). Somente quanto ao raiamento, podemos afirmar que parâmetros como a profundidade das raias, o passo do raiamento e o acabamento (se mais rústico e com cantos vivos ou mais arrendondado e polido) todos afetam o tiro. E tem ainda as medidas da câmara, o alinhamento desta com o cano, a profundidade, o ângulo do cone de forçamento, etc, etc, etc... É longa a lista.

Qualidade e Tipo do Chumbinho: Todos os que leram qualquer linha a respeito devem ter tropeçado em artigos sobre a seleção de chumbinhos. A variedade é enorme, e saber qual chumbinho vai se dar melhor com aquele cano que está montado na sua arma é um senhor desafio. Isso porque as variações inerentes à produção de um cano se multiplicam na produção de milhões de chumbinhos. Obviamente que, produzir esses milhões de chumbinhos com tolerâncias apertadas tem um alto custo. Posso concluir que um chumbinho mais caro deve ter um desempenho melhor, certo? Não necessariamente, pois o fabricante pode ter definido as medidas destes chumbinhos e serem incompatíveis com as tolerâncias do seu cano. Por isso, não fique chateado, mas você pode sim comprar um chumbinho bem caro e não ter resultados bons em sua arma, o que não significa que este seja um produto de baixa qualidade.

Vibração no Ciclo de Tiro: Esse é um fator que afeta especialmente as armas de pistão-e-mola. As armas pneumáticas, sejam elas PCP ou Multi/Single Pump tem alguma vibração e recuo, mas é quase imperceptível ao atirador, devido ao peso da arma em relação ao peso do projétil. Então vamos nos concentrar no que acontece com armas de mola. O problema todo se resume a um fato: quando você puxa o gatilho, este desarma um pesado pistão que é impulsionado por uma pesada mola. Todas essas peças grandes e pesadas estão em movimento antes que o chumbinho sequer comece a se deslocar. Ou seja, até que ele saia do cano, a vibração da arma estará influenciando a trajetória do projétil.
Qual então é o segredo para um bom tiro? Devo mandar minha arma para algum armeiro que tem a receita para eliminar a vibração da minha carabina? Bem, você até pode fazer isso, mas não há como, fisicamente, eliminar a vibração. Pode-se atenuá-la, mas você tem que aprender a viver com ela. E como se faz isso? Você já deve ter assistido a filmes de guerra e visto grandes obuseiros atirando não? Eles tem uma vibração e um recuo num nível muito superior ao da sua arma, e no entanto são perfeitamente capazes de acertar um alvo a quilômetros de distância com precisão e exatidão. Como? Acontece que o obuseiro é deixado para vibrar livremente durante o tiro.



Você deve deixar que sua carabina faça o mesmo. Apoie apenas levemente a arma em sua mão, preferencialmente colocando a mão fraca (a mão esquerda de um atirador destro) espalmada  próximo ao ponto de equilíbrio da arma, que normalmente é logo a frente do guarda-mato ou próximo dele. Segure o grip bem de leve, quase sem tocar mais que dois ou três dedos, e mal encoste a soleira no seu ombro. Se atirar apoiado em uma bancada, nunca apoie a arma diretamente sobre o rest ou sobre sacos de areia, alvos, livros ou qualquer outra superfície. A arma deve estar sobre a sua mão. Em algumas armas mais sensíveis atiradores experientes usam apenas dois dedos para apoiar a arma. Variando um pouco a posição da mão fraca, você encontrará o ponto ideal para a sua arma. Marque-o com fita adesiva para se lembrar onde colocar a sua mão.

Peso do Gatilho: Numa arma de fogo, nós sabemos que o peso do gatilho tem grande influência no tiro. Brigar com um gatilho pesado e arrastado é uma "sofrência" que em nada ajuda a manter a concentração e o alinhamento das miras. Bem, o que acontece é que, ao contrário das armas de fogo, onde normalmente o gatilho somente segura um cão ou um percussor, nas carabinas de ar há todo o sistema de pistão-e-mola sendo retido pelo sistema de gatilho. Ou seja, ou o gatilho tem uma alavancagem que nos dá um peso leve, ou você sentirá que precisa de um alicate para apertá-lo. Por isso mesmo, muitas carabinas de pressão são fabricadas hoje com gatilhos reguláveis. meu conselho aqui é: seja muito cuidadoso. Vejo muitos gatilhos trabalhados por ditos "especialistas em tunning" que acabam ficando inseguros. Trabalhe dentro dos limites do razoável.

Miras: Dá para escrever um artigo inteiro só sobre miras, especialmente as lunetas. É muito comum no Brasil ouvir que determinada arma tem potência tão elevada que não deve ser usada com miras telescópicas. Na verdade, o que essas pessoas ainda não entenderam é que não é a potência da arma que destrói a sua luneta, mas sim a vibração excessiva na hora do tiro. Até a década de 1980, as carabinas de ar eram muito menos potentes do que as atuais, e ainda por cima ninguém usava lunetas nelas. Até que na década de 1990 tudo isso mudou, e hoje, além das carabinas serem (algumas) extremamente potentes (e "vibrantes", e não num sentido positivo!), todo mundo quer usar lunetas.  Como resolver isso? Primeiramente, use lunetas apropriadas para carabinas de ar. Use suportes e anéis robustos. Use um batente robusto, que realmente impeça a base de se deslocar para trás durante o tiro. E, se ainda assim sua mega-master-blaster-ultra-magnum carabina de ara continuar a destruir alvos e lunetas, pense em fazer um alívio na mola. Você perderá alguma velocidade, claro, mas vai ganhar muito mais ao conseguir manter o zero de sua luneta intacto após uma longa sessão de tiros.
Há um outro detalhe sobre miras: durante seu ajuste, se para zerar a sua luneta você teve que usar todo o limite de regulagem para a direita ou para cima, sua luneta pode estar enfrentando um problema de falta de pressão nas molas que sustentam o retículo. Use espaçadores entre os anéis e a luneta para que o zero seja obtido em um ponto mais central no curso das duas torretas.

Um carabina de ar bem ajustada é capaz de colocar tiro sobre tiro a distâncias surpreendentes. Se você souber tratar bem de sua carabina de pistão-e-mola, seja ela de mola metálica ou Gas Ram, ela vai lhe dar ótimos resultados, desde que você não tente transformá-la naquilo que ela não é. Muita gente no Brasil reclama mais de que sua carabina não é capaz de perfurar determinado material, quando na verdade deveria se preocupar primeiro se você é capaz de acertar o alvo, depois o que vai acontecer com ele. Uma carabina muito potente que não acerta o alvo não vale nada.

Aprenda a atirar com sua carabina antes de mandá-la para algum tunning. Use todos os seus recursos antes de substituir uma mola ou um gatilho. Você verá que às vezes as soluções estão bem dentro do seu alcance, sem grandes investimentos.

E assim sobrará mais dinheiro para você comprar mais chumbinhos, de melhor qualidade e em maior quantidade.

E bons tiros!

terça-feira, 17 de março de 2015

O FN FAL




O FN-FAL em sua versão mais básica.


Caros amigos, começo hoje uma série de posts sobre um dos fuzis mais icônicos da história: o FN-FAL.

Considere-se que os 3 fuzis mais produzidos em toda a história são o AK-47 e seus derivados (chegando, segundo algumas fontes, a cerca de 75 milhões de unidades produzidas), seguido de longe pelo AR-15/M-16 e seus derivados (com algo em torno de 8 milhões), e o FAL (com cerca de 5 milhões de unidades). Somente uns poucos lugares do mundo ainda produzem o FAL, nenhum deles em larga escala, enquanto os outros dois seguem em produção e seus números tendem a crescer a cada ano.

O FAL foi em um determinado momento o fuzil mais importante do mundo ocidental, então em uso por 90 países do mundo. A sua história começa ainda na Segunda Guerra Mundial, e teve reviravoltas intrigantes. Foi também o nosso fuzil padrão da Forças Armadas, e sobre isso nós escrevemos um post, Os Fuzis em Serviço no Brasil - Parte 1.

O FAL não é um fuzil de assalto, é mais apropriadamente descrito como um fuzil de batalha. Isso se deve ao fato da potência de seu calibre o famoso 7,62X51mm NATO. Algumas pessoas discutem ainda se o FAL, assim como seus contemporâneos M-14 e HK G-3, devem ser chamados de fuzis de assalto ou de fuzis de batalha.

Nessa série, vou contando aos poucos a história do FAL, que muito me fascina, e também vou descrever dois derivados dele,tanto para o Airsoft como para Carabinas de Pressão.


O Para-FAL, versão mais curta e mais leve, adotada por paraquedistas e outras tropas especiais.

O Início

Ao final da Segunda Guerra Mundial, os exércitos já haviam se convencido de que os antigos fuzis de ferrolho, acionados manualmente para cada tiro, já tinham virado história. Novos fuzis semi-automáticos tinham mais rapidez, maiores capacidades e eram tão precisos quanto os de ferrolho, pelo menos nas mãos de soldados comuns (em relação à atiradores de elite, isso ainda geraria muito debate). Os EUA tinham conseguido introduzir com muito sucesso seu M-1 Garand, e este era considerado o melhor fuzil do conflito (pelo menos para os EUA). Outras nações porém não ficaram paradas no tempo, e também introduziram seus próprios modelos de fuzis semi-automáticos, como os soviéticos SVT-38 e SVT-40.

Foram os experimentos alemães porém que mais avançaram no sentido de realmente criar uma arma inovadora. Inicialmente com modelos mais tradicionais, como o G-41 e o G-43, os alemães haviam "radicalizado" com a estupenda FG-42. Essa arma tinha sido desenvolvida para prover ao paraquedista alemão (daí seu nome: Fallschirmjägergewehr 42) uma arma que pudesse cumprir as missões tanto do fuzil Mauser K-98 de ferrolho quanto o da MG-34, uma metralhadora alimentada por fita, tudo isso num pacote menor, mais leve, e alimentado por carregador tipo cofre metálico.


A FG-42, adotada pelos paraquedistas nazistas, visava substituir tanto os fuzis Mauser como as metralhadoras MG34.

O sucesso dessa arma foi apenas relativo: apesar de ser temida pelos inimigos, seu uso foi restrito aos
Fallschirmjäger, que em seu uso tinham que segurar o recuo de 20 tiros sequenciais da potente 7,92X57mm. Enquanto é fácil de se apaixonar pelo design da FG-42, a verdade é que na prática a arma tinha sérios problemas gerados, principalmente, pelo recuo excessivo.

A solução desses e de outros problemas veio com um outro radical desenho alemão: o Sturmgewehr StG-44. Usado extensamente chapas metálicas na sua construção, o StG-44 apresentou o que seriam as bases para todos os novos fuzis a partir de então:

1) Alimentação por carregador tipo cofre de alta capacidade
2) Capacidade de fogo semi- e totalmente automático (tiro seletivo)
3) Uso de munição intermediária entre fuzil e pistola.

Essa última característica veio à luz quando o Exército alemão percebeu que seus soldados se engajam em combate a distâncias  muito mais curtas do que as preconizadas à época do desenvolvimento de armas como o Mauser K-98. Ao invés dos 2000m de que eram capazes os K-98, os soldados modernos abriam fogo a partir de 300m. Não apenas eles estavam com uma arma muito mais potente do que precisavam, mas também inadequada, na medida em que não se prestava ao volume de fogo exigido de uma situação de combate mais próxima.


O StG-44 alemão foi o pioneiro fuzil de assalto do mundo.

Ao fim da guerra, todos os exércitos observaram os experimentos alemães com muita atenção, e foi na União Soviética onde o conceito foi mais imediatamente compreendido e assimilado. Já em 1943 haviam os soviéticos tido contato com aquele novo conceito alemão, e talvez por isso tenham ficado mais impressionados. Talvez fosse pelo fato de que seu Exército já fazia uso de milhões de submetralhadoras e a nova arma era superior a essa em tudo, mantendo a facilidade de uso. O fato é que em 1947 nascia o mais famoso fuzil de assalto do mundo: o Avtomat Kalashnikova 47, ou simplesmente, o AK.

Enquanto ainda estavam extasiados pela vitória e confiantes de que seu M-1 Garand de 1936 era o melhor fuzil do mundo, os EUA, líderes do novo mundo ocidental que começava a se desenhar, viam pouca ou nenhuma necessidade de mudança. Seus parceiros europeus já não viam o mundo com tão bons olhos. Para balancear a ameaça dos AK-47, o Ocidente precisava de uma resposta, e essa resposta foi o FAL.

Mas a história do FAL não foi apenas de engenheiros trabalhando até aperfeiçoar um modelo que todos acabaram comprando, felizes. Houve reviravoltas, espionagem, fugas no meio da noite, e até oficiais de alta patente sabotando testes para garantir seu insucesso. Essa é a história do FAL, o fuzil do ocidente livre.

Qual calibre?

Após a Segunda Guerra, as noções ocidentais se juntaram numa aliança das nações democráticas para fazer frente à ameaça soviética, que não havia desmobilizados seu Exército e tomava o leste europeu. Esta aliança tomou forma em 04 de Abril de 1949, sob o nome de Organização do Tratado do Atlântico Norte, ou NATO, em inglês. A padronização era a palavra de ordem, já que cada nação havia entrado no conflito com seus equipamentos nacionais e o pesadelo logístico que se seguiu tinha que ser contornado.


Nesta imagem vemos o 7,62X51 ao lado de verdadeiros calibres intermediários. Pode-se facilmente notar que seu estojo tem muito mais capacidade e potência que os demais.

O desejo das nações aliadas era a de escolher um único modelo de fuzil que seria adotado por todos os países da aliança e em um único calibre, o que facilitaria as coisas. A pergunta era: qual calibre escolher? Ingleses já trabalhavam num calibre menor, .276, enquanto os belgas tinham visto e trabalhado sobre o alemão 7,92X33mm do StG-44, e outras variações do tema foram surgindo. Os EUA, porém relitavam em abandonar seu calibre .30-06, e não admitiriam nada inferior a isso, acreditando que cada garoto americano era um rifleman nascido e criado com um rifle de caça ao seu lado e capaz de lidar facilmente com calibres deste nível. Além disso, o Garand era uma obra de arte da Engenharia moderna, enquanto aquele fuzil novo alemão era feito de lata estampada e não chegava aos pés da qualidade do M-1.


Diferentes versões do FAL. Note a mira SUIT que equipa um dos fuzis.

Essa visão, arrogante, diga-se de passagem, teve um peso enorme nas decisões que foram tomadas a seguir. Tendo sido convencidos a adotar um calibre de no mínimo .30, os designers foram rapidamente vencidos até que se chegasse a um calibre que era pouco mais curto em comprimento que o .30-06, mas que balisticamente quase nada devia a este. Nascia o 7,62X51mm.

Com a decisão tomada, a primeira vítima foi a proposta inglesa: tendo sido desenvolvido para um calibre menor, o revolucionário EM-2 não seguiria em frente por não acomodar o novo calibre 7,62mm. Um pena: o novo fuzil inglês era um bullpup, muito avançado para sua época, e seu conceito somente voltaria a tona na década de 1970, quase 30 anos após.

Ficaram na disputa por um novo fuzil os americanos, com uma versão aperfeiçoada do M-1, e os belgas, que desde 1940 trabalhavam em conceitos para fuzis automáticos, chefiados por Diedonne Saive, que havia trabalhado antes com John Moses Browning. Claro que a época não podia ser pior para os belgas, já que seu país fora invadido pelos nazistas, e Saive e sua equipe tiveram que fugir para escapar do domínio alemão. Levaram consigo os desenhos e projetos de sua nova arma para a Inglaterra, onde Saive ofereceu seus serviços. Mas eram tempos difíceis para os ingleses também e ninguém ali ia ficar experimentando coisas em tempos de necessidades extremas.

Após a guerra, Saive e equipe voltaram à Bélgica, onde completaram o desenvolvimento daquele que seria o SAFN 49, um fuzil que, como outros antecessores, também tinha características conservadoras, como uma coronha de madeira e magazine de 10 tiros. Saive, porém não ficaria deitado nos louros desta invenção, e logo partiu para um design mais moderno e eficiente.


O "pai" do FAL, o fuzil SAFN-49.

Saive testou vários modelos, inclusive um que também era um bullpup, como o EM-2. Abandonando essa ideia, os belgas se concentraram em uma ação inspirada nos modelos SVT soviéticos, e que inicialmente aceitava a munição 7,92X33mm. Após a adoção do 7,62X51 NATO, os belgas rapidamente adaptaram seu novo design a calçá-lo, o que levou seu projeto ao limite do aceitável para uma arma daquele peso. Dotado de um carregador tipo caixa de 20 tiros, a arma tinha seletor para tiros intermitentes e para rajadas, ainda que a potência do novo calibre quase tornasse-a incontrolável nesse regime.

Disputando com os belgas estavam os americanos. com seu novo T-44. Ambos passariam por rigorosos testes antes de ser adotados pela NATO como seu fuzil padrão. Mas os americanos não estavam preparados para uma derrota e dificultaram ao máximo a dotação do FAL. O ápice da estratégia americana de boicotar o modelo belga se deu em Dezembro de 1953, quando protótipos dos dois fuzis foram mandados à Fairbanks, no Alasca, para testes de inverno. As armas belgas foram encaixotadas e mandadas direto para lá, enquanto os T-44 deram uma paradinha "estratégica" na fábrica de Springfield, onde funcionava o arsenal americano responsável pelo projeto do T-44. As armas foram então cuidadosamente preparadas para enfrentar o rigor do Alasca, enquanto seu concorrente seguiu com a cara e a coragem. Obviamente, o T-44 bateu o FAL nos testes que se seguiram, não sem protestos do lado europeu.

Para evitar um mal-estar ainda maior, os EUA secretamente negociaram com os belgas prometendo-lhes que adotariam o FAL, enquanto por trás das cortinas continuavam o desenvolvimento de seu T-44. Logo após, em 1954, o Canadá se torna oficialmente o primeiro pais a adotar o FAL (nomeando-o C1), seguido rapidamente pela Inglaterra e pela Bélgica. Os EUA, porém, decidem escolher seu próprio design, que se torna o M-14. Todas as nações da NATO acabaram adotando o FAL, menos o país que os liderava. Apenas Taiwan, fortemente financiado pelos EUA, adotaria o M-14 em largas quantidades (ainda que pequenas dotações fossem registradas em alguns países), enquanto 90 nações escolheriam o FAL, dentre elas o Brasil.

Assim, começava o reinado do FAL como o fuzil padrão ocidental. Mesmo não encontrando apoio americano, as qualidades do FAL logo se mostraram aos soldados que o carregavam, e as deficiências também. As maiores delas eram o longo comprimento da arma, o peso e o fato de que em fogo automático o fuzil era praticamente incontrolável. Essa última característica não é única ao FAL, seus contemporâneos M-14 e G-3 também o são, fruto da decisão pela adoção de um calibre que é excessivamente potente numa arma automática. Mesmo assim, o FAL continuaria atuando por décadas antes de ser substituído e ainda hoje tem seus fãs.

Na próxima parte, vamos mergulhar mais na história do FAL, das adoções por países e seu uso em conflitos, e os problemas relacionados a eles. Acompanhe nosso blog. Comente e deixe suas sugestões.

Até mais.

sexta-feira, 13 de março de 2015

O Lado Negro da Força: Carabinas PCP - Parte 2



Bem meus caros leitores, voltamos a tratar do tema PCP. Na Parte - 1, comentei um pouco sobre a minha experiência antes da compra e como foi um pouco da minha decisão de comprar uma Benjamin Discovery, que já veio de fábrica com a bomba manual.

Algumas pessoas comentaram comigo via Facebook que o fato de eu possuir uma única PCP me desqualificaria para fazer qualquer comentário sobre PCPs em geral. Essa seria uma experiência muito restrita para poder tecer comentários sobre toda uma classe de armas.

É verdade que só tenho uma PCP, mas não é verdade que minha experiência com PCPs se resuma a esta arma. Na verdade, estou querendo mostrar aos leitores deste blog como foi a minha entrada no mundo das carabinas PCP, e não testar toda a classe destas armas. O que eu aprendi (e ainda tenho muito a aprender) pode sim ser a experiência de muitos que ainda não possuem PCPs e tem que confiar na leitura de artigos escritos por outros.

Um detalhes que eu não mencionei, mas que talvez alguns leitores se ligaram é de que à época da compra da minha Discovery, a Crosman já tinha lançado  Marauder. Muito mais sofisticada que a Discovery, a Marauder é apenas um pouco mais cara do que esta, tendo um desempenho semelhante ao de suas concorrentes européias. Veja que eu disse semelhante, e não "igual" ou "melhor". Vou deixar essa discussão para os donos de Marauders...

O fato é que eu decidi não investir muito, e confesso não me arrependi. Acho a Marauder uma ótima arma, já atirei com a de um amigo, mas para mim, à época da aquisição, a melhor escolha foi a Discovery. Tem uma única coisa que a Marauder tem e faz muita falta na Discovery, e já vou chegar nisso.

Mas antes deixe-me comentar um pouco sobre a importação. Comprei a minha Discovery de um importador autorizado, que fez todo o processo de maneira que eu apenas assinei os papéis, paguei (detalhe importante), e recebi minha arma em casa. Quase um ano depois. É importante você, leitor que está indeciso saber disso, porque essa não pode ser uma compra de impulso. Eu pensei muito antes mesmo de contactar o importador, de modo que uma vez iniciado o processo, eu sabia que não iria me arrepender no meio do caminho e perder meu dinheiro, nem o tempo do dedicado importador.

Quando recebi a arma, eu já tinha lido muita coisa sobre ela. Já conhecia a história da arma, já tinha tirado duvidas com o próprio Tom Gaylord, e confesso tinha uma boa noção do que viria a seguir. Eu já possuia um cronógrafo, comprado anos antes para a arena de Airsoft. A arma, como já disse, veio em um pacote contendo também uma bomba manual. Assim que chegou eu a enchi, e apenas dei alguns disparos em casa mesmo. Primeira impressão: o nível de ruído é alto, mas não ensurdecedor. E ao contrário do que muitos descreveram, não achei nem perto do nível de um .22Short, muito menos de um .22LR. A já citada Marauder tem um supressor incorporado, chamado mais apropriadamente de "shroud" em inglês, e a diferença é realmente significativa.

Sendo assim, levei-a a um clube de tiro e lá zerei a luneta e fiz os primeiros disparos. Decepcionantes grupamentos a 25m me mostravam que alguma coisa só podia estar errado! Eu estava atirando apoiado, usando vários diferentes chumbinhos, e nenhum, absolutamente nenhum, agrupava melhor do que minha clássica Gamo 440. Impossível: cadê a perfeição das PCPs?

Voltei, li mais umas trocentas paginas na internet, e numa tarde, com o coração mais calmo e a mente mais leve, fiz o teste que todos os donos de PCPs deveriam fazer: passei a arma pelo cronógrafo.

Não estou falando de dar um ou dois tiros, nem 10 ou 12. Eu estou falando de encher o reservatório até a pressão máxima definida pelo manual (no caso, 2000PSI) e atirar até esvaziá-lo, registrando a velocidade de cada tiro um a um, até que se chegue a um limite onde a velocidade já não seja mais prática.

Esse teste consumiu uma tarde toda, e nele foram disparados 45 tiros. A pressão final, pelo manômetro da arma, era de aproximadamente uns 700PSI, e o último tiro registrou 679fps.


Observe bem o gráfico e veja que a velocidade inicial (732fps) está longe do pico, que só foi atingido no tiro de nº 28, que registrou 826fps. Quando a velocidade registrada foi menor do que a velocidade do 1º tiro da série, eu parei o teste. Com essa série registrada em mãos, pude observar que:

1) Há uma considerável variação de velocidade entre o início da série até seu final. Tirando uma média, pode-se concluir que não houve um patamar, dentro do qual os tiros tinham todos uma velocidade muito parecida. Houve uma curva ascendente e após atingir um máximo, a curva começa a declinar. Escolhi ficar com os tiros que variavam entre 800fps +/- 20fps (ou seja, entre 780 a 820fps), porque neste o ponto de impacto variou muito pouco.

2) Essa velocidade, 780fps, só foi atingida no tiro de nº 14, quando o manômetro lia algo em torno de 1700PSI. Isso quer dizer que de nada adianta eu bombear ar além de 1700PSI em minha carabina, pois qualquer pressão acima disso faz com que os tiros saiam mais lentos, e não mais rápidos.

3) posso continuar a atirar com ela até que a pressão tenha caído a aproximadamente 950PSI, quando então eu tinha dado o 38º tiro da série e que registro 779FPS. Com isso, os tiros úteis somaram 19 disparos. Na prática, sei que tenho aproximadamente 20 tiros úteis.

Esse desempenho para mim era suficiente para meu uso e nunca reclamei que a arma devia ter mais tiros úteis ou de que as velocidades deveriam ser maiores. Mas, de novo, eu já tinha lido muita coisa na internet, e muita gente comentando: tiros de até 900 FPS, com séries de mais de 35 disparos úteis. Teria eu sido presenteado com uma arma de menor desempenho? Eu acho que não. Acho os 900 FPS até podem ser alcançados, mas com o uso de pellets mais leves.

Sei também, pela experiência de colegas atiradores donos de Discoveries que com aproximadamente 1000 tiros as coisas tendem a melhorar. É como se a arma "amaciasse", e talvez eu já devesse refazer o tal teste do cronógrafo, pois os resultados podem ter melhorado de lá pra cá.

Esse tipo de teste é um pouco cansativo, requer atenção aos detalhes, e leva um certo tempo para ser feito. Por outro lado, você fará isso uma vez só (talvez duas, se você repetir o teste depois de sua arma amaciar). A informação levantada vai lhe servir como uma referência e evitar que você carregue sua arma além do ponto que ela gosta, o sweet spot. É descobrir o Ponto G de sua carabina e tornar seu relacionamento com ela mais feliz para sempre!

E quanto aos meus grupamentos? Bem, de fato melhoraram bastante depois que eu comecei a trabalhar com a Discovery dentro dos parâmetros determinados a partir deste teste, mas ainda assim, eles nunca foram espetaculares. Seria o cano? Seria o chumbinho? Seria o atirador (provavelmente...)? Ainda não sei, mas antes de tentar responder, na próxima parte, vou compartilhar com vocês os grupos que tenho conseguido com a minha Discovery.

Até a próxima.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Novo Endereço do Blog

Pessoal, tem havido uma confusão com meu blog, e quero aproveitar esse espaço para compartilhar um pouco com vocês da história disso tudo.

No final de 2011, eu e minha esposa Samanta decidimos abrir a Arena "Combate Airsoft", em Jaguariúna - SP. Para isso nós investimos pesado em equipamentos, AEGs, Coletes e demais petrechos de segurança individual, e alugamos um espaço num Rancho na cidade. Era um trecho de mata muito bonito, próximo do asfalto e de facílimo acesso.

Para divulgar o esporte e a arena, nós iniciamos um blog, que era atualizado sem uma regularidade específica, e que visava tornar tanto a arena conhecida como também agregar os atiradores que tivessem interesse no Airsoft.

De la pra cá, muita coisa aconteceu com a Arena. Acabamos tendo que sair do negócio por vários motivos de ordem pessoal, mas ficamos contentes em saber que a atividade em si nunca cessou, tendo ido para a cidade de Artur Nogueira por um período e, mais recentemente, tendo voltado para Jaguariúna, porém em outro local, igualmente de fácil acesso. Sabemos que a Arena está em muito boas mãos.

Quem havia ficado para trás nessa história era o blog. Mesmo sem ter nenhuma atualização significativa por quase dois anos, ele recebia uma boa média de visitas por mês. Era realmente uma pena deixar tal espaço sem uso.

Decidi então recomeçar o blog, somente que desta vez, ao invés de tratar exclusivamente de Airsoft, resolvi incluir Armas de Ar no escopo, já que Airsoft nada mais é que uma Arma de Ar! Faço isso porque gosto do esporte, gosto de pesquisar e escrever, e sei que há relativamente pouca informação disponível em Português sobre o assunto, se compararmos por exemplo, com o que está disponível em inglês. Não tenho nenhum patrocinador, não vendo nada, e portanto, esse blog é totalmente desinteressado, no sentido de que as informações aqui divulgadas são somente de minha responsabilidade. Links para outros negócios, como lojas e outros, são somente porque amigos estão lá atrás daquele balcão e quero que eles tenham sucesso.

Como nós mudamos um pouco o foco, nós achamos por bem mudar o endereço e levar todas as postagens para este novo site. Nele estão todas as postagens antigas e pretendemos atualizar pelo menos um vez por semana. Neste início, estou postando quase diariamente pois tenho algum material já escrito e outros testes já feitos, e quero que você, leitor, tenha um material novo para ler e comentar.

Aproveitando que nesse momento as redes sociais imperam no Brasil, estou também divulgando o blog em vários grupos de interesse no Facebook. Aproveito para agradecer imensamente aos administradores pelo espaço dado pelos grupos para divulgação do blog. A visita de vocês é muito importante para mim. Obrigado.

Com isto, tenho visto aumentar consideravelmente o número de visitas do blog. Apenas o que ainda me intriga é o fato que que a maioria, eu diria 99% dos visitantes, nada comenta. Dessa forma, fica difícil saber o que o leitor está pensando, se está gostando ou não, se tem alguma crítica a fazer, ou sequer se ele concorda com o que eu escrevi.

Ao deixar em um comentário o seu pensamento, você ajuda a construir esse espaço e melhorá-lo a cada dia. Não espero somente comentário elogiosos, mas também as críticas construtivas que vão ajudar a desenvolver mais o blog e por consequência o esporte do tiro.

Um abraço a todos.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Teste: Pistola Airsoft KWA M1911 Mark IV PTP GBB - Parte 2

Voltamos ao teste da Pistola Airsoft KWA M 1911 Mk IV. Esta é uma pistola a gás, com blow back que mantém ao máximo as características de sua inspiradora, a pistola Colt M1911. Nessa segunda parte do teste, estaremos verificando as velocidades alcançadas.




A Pistola KWA M1911 GBB é uma réplica exata de sua congênere de fogo.


Primeiras impressões de tiro

A pistola tem um funcionamento realmente muito próximo do que seria numa arma real. Alguns controles, como a trava ou o liberador do ferrolho são bem mais leves e fáceis de operar do que numa arma de fogo. Por vezes, acionei inadvertidamente a trava, de tão leve que ela é. A tecla da empunhadura, assim como na arma real, deve ser premida para acionar o gatilho, e isso é feito sem maiores dificuldades.

O gatilho em si é bem leve. Nunca regulei o curso desse gatilho, mas confesso que não senti necessidade. Como na arma original, o reset é bem curto e pode ser comparado ao encontrado numa arma de boa qualidade.

Durante os testes, houve apenas uma ocasião em que a arma parou aberta tendo ainda BBs no magazine. Exceto por esse evento, não houve qualquer falha de alimentação durante os testes.


O magazine original de 14 tiros, à direita na foto, foi um pouco mais rápido que o novo magazine bifilar de 28 tiros, à esquerda.

Velocidades

As velocidades foram medidas usando-se um cronógrafo Crony, modelo Beta, e foram medidas a uma distância de aproximadamente 30 cm da boca do cano. Durante os testes, procurei testar os dois magazines que possuo para esta pistola, um de 14 tiros original, e outro de 28 tiros, lançado recentemente.

Usando o magazine de 14 tiros a pistola fez uma média de 307,2 FPS (93,63m/s) com BBs de 0,20g, enquanto os mesmos BBs quando alimentados pelo magazine de 28T, apresentaram média de 291,7 FPS (88,91m/s). Isso mostra que as regulagens de válvulas são mesmo diferentes de um magazine para outro. Antes de cada série de 10 tiros, os magazines foram recarregados com gás.

A propósito, cada carga de gás é suficiente para 2,5X a capacidade de tiro dos dois magazines, ou seja, uns 35 tiros no magazine de 14 e uns 65 tiros no de 28. Talvez para garantir uma alimentação segura numa segunda rodada de tiros sem recarga de gás é que o magazine de 28 Tiros seja mais "econômico" do que o magazine de 14 tiros.

Testei também a arma usando-se BB biodegradáveis, de 0,20g. As médias foram, para os dois magazines, pouco menores que as anteriores: 298,8 FPS (91,07m/s) e 275,8 FPS (84,06m/s) para os magazines de 14 t e 28 t.

O fabricante recomenda o uso de BB de peso igual ou superior à 0,25g, mas eu não tinha BBs desse peso a disposição. Utilizei então BBs pesando 0,28g, e que apresentaram médias de 250,4 FPS (76,32m/s) e 240,2 (73,21m/s).

Essas velocidades são modestas, mas considere que se trata de uma arma blow back, ou seja, parte dos gases é desviada para empurrar o ferrolho para trás a cada tiro. A sensação de recuo proporcionada dá um bom realismo, mas por outro lado tende a diminuir a velocidade dos BBs. De toda a forma, me parece um desempenho suficiente para uso em jogos, onde o uso de pistolas normalmente é feito a curtas distâncias e onde esse nível de velocidade não se apresenta perigoso.


Todos os controles da arma são iguais aos de uma arma real, exceto pelo seu acionamento, que é muito mais fácil e leve.

Ah, uma última informação que não havia sido postada na parte 1. A arma pesa exatos 828g sem magazine e 1044g com o magazine inserido. Esse peso é bem próximo daquele da arma real, que pesa cerca de 1100g sem o magazine. Mas este, na arma real, é bem leve, a diferença de peso sendo realmente devido aos 7 tiros de .45 ACP.

De maneira geral, o funcional da arma foi perfeito. Na parte 3 testarei a arma em precisão usando os mesmo BBs empregados neste teste.

terça-feira, 10 de março de 2015

Revólver Airsoft Win Gun 701 Super Sport - Parte 1


O revólver WG 701 CO2


Hoje vou apresentar a vocês minhas impressões sobre uma arma diferente: o revólver Airsoft Win Gun Super Sport 701 CO2. Trata-se de uma arma bastante peculiar, já que a imensa maioria das armas curtas de airsoft são pistolas.

Este revólver pode ser encontrado por vários nomes. Entre as mais conhecidas encarnações dele está o revólver Dan Wesson, em calibre 4,5mm e que utiliza esferas de aço (BB's), e que por esta razão não é empregado em jogos de airsoft. Mas na realidade, aquele revólver é derivado deste, tendo nascido para o emprego com munição plástica de 6mm.


A arma funciona tanto em ação dupla, acionada pelo gatilho, como em ação simples, engatilhando o cão para cada tiro. Na imagem acima se pode ver a válvula e a "barra de transferência".


O WG SS701 é um revólver de ação dupla convencional, ou seja, atira tanto em ação dupla como em ação simples. Seu tambor se desloca para a lateral esquerda para ser municiado com seis cartuchos, os quais são alimentados com uma única BB. Apesar de possuir um extrator ("estrela") como nos revólveres "reais", a extração pode ser feita somente levantando-se a arma, pois os cartuchos não ficam aderidos às paredes das câmaras. Para abrir o tambor, basta acionar a tecla na lateral esquerda do revólver.



Os 6 cartuchos podem ser inseridos individualmente ou pelo jet-loader, fornecido com a arma.


A arma funciona com bulbos de CO2 de 12g, que são inseridos na empunhadura. Um parafuso na base da empunhadura empurra o bulbo contra o pino de perfuração e alimentação. Uma válvula, acionada pelo cão da arma libera uma quantidade de gás atrás do tambor e através do cartucho para impulsionar o BB pelo cano. Não há hop-up e o cano é liso. A mira traseira é regulável em altura e azimute.


O bulbo de 12g de CO2 é inserido na empunhadura, que se desloca para trás e para cima. Um parafuso plástico na base empurra o bulbo até ele ser perfurado.

A minha arma, como vocês podem ver, tem cano de 4 polegadas de comprimento. Versões com 2,5", 6" e até 8" podem ser encontradas no mercado. Apesar da portabilidade ser algo prejudicada, as versões com canos maiores devem, via de regra, obter velocidades maiores.

Cada cartucho deve ser alimentado com uma única BB na sua ponta. O jet-loader pode ser empregado para se carregar todos os 6 cartuchos de uma vez só no tambor. Mesmo assim, isso é um fator que certamente limita bastante o seu uso em jogos de airsoft, seja pela baixa capacidade, seja pelo risco de perda dos cartuchos em "batalha". Por outro lado, é impagável surpreender seu adversário, empunhando um revólver engatilhado e dizendo-lhe: "rendido"!


Os cartuchos contém somente um BB cada. Há um modo muito simples e rápido de se carregá-los utilizando o jet-loader.

Eu possuo este revólver há algum tempo. Já fiz vários testes com ele, empregando BB's de diferentes pesos, e posso garantir que é diversão na certa. Vou mostrar, ao longo dos testes, que a quantidade de tiros por bulbo mais que compensa o investimento, e, para o policial ou militar que usa um revólver em serviço, ou mesmo um civil que use revólver para sua defesa pessoal ou esporte, este é um excelente treinador, pois os procedimentos de carga e tiro são exatamente iguais aos de um revólver "de verdade".


O tambor possui um extrator como nos revólveres convencionais, mas não é realmente necessário. É bom, porém para manter o realismo do treino.

O único senão a esta afirmação é o fato de que a arma possui, ao contrário dos seus congêneres reais, uma trava. Sim, uma trava! O retém do tambor pode ser puxado para trás e com isso trava o conjunto cão+gatilho e também o tambor. Particularmente não vejo qualquer vantagem em seu uso, mas está lá para quem quiser.

O revólver pesa cerca de 850g, e portanto tem um bom peso. De maneira geral, suas dimensões são bem próximas às de um revólver de chassis médio, como um S&W modelo 10 ou um Taurus modelo 82. Exceto pela empunhadura, o restante do revólver é feito em metal. A ponta do cano, conforme preconizado por lei, é pintada de laranja.


O retém do tambor também serve como trava!

Desde que vi pela primeira vez, sempre quis um revólver deste tipo. Se não para uso em jogos, mas para plinking e treino, ele é perfeito. Com um pouco de cuidado e carinho, ele vai durar por muitos e muitos anos.

Na próxima parte, trarei os resultados de testes de velocidade e de quantidade de tiros por bulbo. E depois na última parte, os testes de precisão.

Acompanhe nosso blog e comente. Bons tiros.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O Lado Negro da Força: Carabinas PCP - Parte 1

Estou "devendo" aos meus leitores por não ter postado muita coisa nos últimos tempos, mas estou decidido a mudar isso. Desde o inicio, pretendi que um novo post fosse ao ar uma vez por semana, mas já que tenho bastante material não publicado pronto, vou postando aqui com maior regularidade. Peço aos leitores que deixem suas opiniões e comentários, e quais assuntos gostariam de ver tratados nessas páginas, para que eu possa conduzir os trabalhos de maneira a atendê-los da melhor maneira possível.





Apesar do título dramático, a postagem de hoje não vai tratar de nada vindo de outro mundo. Ao contrário, eu gostaria de ajudar a desmistificar muito do que se diz por aí a respeito de PCPs, e de modo especial ajudar aqueles que, como eu, também tiveram muita dúvida se o investimento vale mesmo a pena.

O que se diz de uma PCP por aí? Que é uma arma de pressão quase perfeita, não tem recuo, tem precisão absurda a distâncias inatingíveis por qualquer carabina de pistão-e-mola. Que são as mais refinadas, as mais elaboradas, as mais elegantes, as mais-mais de todas as armas do mundo das armas de ar. Você, se ainda atira de pistão-e-mola, está atrasado. És um plebeu num mundo dominado por nobres cavaleiros e suas Carabinas PCP. As melhores carabinas do mundo são PCPs! Pelo menos é isso que eu ouvi ao longo dos anos, antes de eu mesmo comprar a minha... e descobrir a verdade.

De fato, tem muita carabina PCP digna de nota. Daystate, Evanix, Air Force, e outras vêm a mente. Todas tem donos que vão falar milhares de coisas sobre elas, e nenhum defeito será sequer mencionado. Eu confesso que sempre ficava com a mesma sensação de ir ao um encontro de carros antigos, e conversar com o dono daquele Mustang 1967: o carro do cara sempre é perfeito, e nunca ficou parado por falta de peça. E ele sempre diz que vai e volta do trabalho todo o dia com aquele carrão. Nunca perguntei o preço do seguro, se é que ele tinha um, ou quanto aquele V8 consumia (isso, para um dono de V8, é o mesmo que perguntar a idade a uma mulher).

A mesma coisa eu pensava sobre carabinas PCP. Deste lado do Paraíso nada é perfeito, então não era fisicamente possível que carabinas PCP o fossem. Alguma coisa não estava sendo dita para mim e eu não encontrava quem me contaria a verdade. Decidi descobrir por mim mesmo. Só faltava um pequeno detalhe: faltava a grana, a bufunfa, a pila, o cascáio, os dólar, as verdinha, enfim, o dinheiro necessário para investir em tudo o que era preciso para uma PCP funcionar. E pior que isso: faltava a autorização da dona da pensão (essa parte às vezes é trash)!

Eis que então a solução para meus problemas é lançada: aparentemente eu não sou o único ser humano na Terra que queira experimentar uma PCP sem ter que vender a casa para isso. Surgiu então a resposta para os nossos problemas: a carabina Benjamin Discovery.

A Benjamin Discovery nasceu de uma proposta feita para a Crosman (dona da marca Benjamin) pelo escritor Tom Gaylord de uma carabina PCP baseada nos modelos daquela marca feitos para operar com CO2, e que pudessem utilizar baixa pressão para funcionamento, ao redor de 2000PSI, ao invés do que unânimes 3000PSI que os outros fabricantes utilizavam. Além disso, a carabina seria simples o bastante para ser um modelo de entrada no mundo das PCP. A Crosman lançou-a em um pacote contendo até uma bomba manual, de modo a que neste pacote, o atirador nem precisasse se preocupar com acessórios.

Pois bem, a carabina foi inicialmente muito bem recebida nos EUA, mas só lá. Na Europa, e no Reino Unido em particular, a Discovery fez muito pouco sucesso entre atiradores acostumados a Daystates, Air Arms, BSAs e outras sofisticadas carabinas PCP. Era um Fusca sendo oferecido num mercado de Bentleys, Rolls-Royces e Mercedes. E novamente eu lia que tudo era espetacular nas PCPs, simples ou sofisticadas que fossem.

Demorei muito a me decidir, até que há uns 3 anos atrás eu finalmente entrei para o Lado Negro da Força e comprei minha primeira PCP. Sim, uma Benjamin Discovery, num pacote já contendo a bomba manual.

Eu já consigo imaginar os proprietários de PCPs mais sofisticadas lendo isso e comentando consigo mesmos: "mas Fred, numa Discovery você realmente não vai usufruir de tudo o que é de bom e de melhor numa PCP", mas por favor acompanhe um pouco mais da saga, pois as descobertas foram muito, mas muito interessantes. O nome da nova carabina não podia ter sido mais feliz: é realmente uma descoberta!



E por que eu me refiro ao Lado Negro da Força quando falo de PCPs? Porque ao contrário de uma carabina de pistão-e-mola ou de uma pneumática multi-pump, sem alguns acessórios você não atira com uma PCP. É necessário no mínimo, uma bomba manual (que como já mencionei, é fornecida com a Discovery em uma de suas versões) ou um cilindro de ar comprimido. Em alguns casos, são necessários adaptadores, mangueiras especiais, e outros apenas para enchê-la com ar, e isso tudo custa caro. Mas não é apenas isso: eu descobri que sem um cronógrafo, é praticamente impossível tirar o melhor de uma PCP, como veremos em tempo.

Todo esse investimento pode te custar mais caro que a própria arma. A única vantagem é que eles podem ser utilizados com qualquer carabina PCP (desde que os adaptadores estejam disponíveis pois não há um padrão no mercado e cada fabricante usa o que ele entende se o melhor). Por isso mesmo é que, uma vez tendo feito o investimento inicial, você entrou para o mundo das PCPs, para o Lado Negro da Força, e está livre para comprar outras PCPs que lhe agradem investindo agora somente na arma em si.

Eu confesso que ainda não tenho um cilindro de ar comprimido. Mas já usei um e vou comentar com vocês a minha experiência, que teve um lado bom e um lado ruim (e o ruim não é o fato de ter que recarregá-lo em uma loja de mergulho). Tenho empregado a minha PCP quase exclusivamente com bomba manual, e não morri por causa disso. Mas tenho algumas experiências a compartilhar no uso desta bomba em outras armas que podem trazer a luz algumas questões bem interessantes.

Até agora, qual tem sido o veredicto? Bem, minha PCP ainda não me convenceu totalmente da tal superioridade do sistema PCP sobre todos os outros. Acho muito interessante, e aprendo todos os dias algo novo, mas não tenho certeza de que, se eu tivesse que escolher somente uma única arma de pressão eu escolheria uma PCP.

Ainda há muito o que se discutir, então vou parando por aqui para não cansá-los. Na parte 2, vou comentar um pouco mais sobre o uso do cronógrafo e sobre bombas x cilindros. Acompanhe o blog, e comente o que achou deste e de outros posts. Fique a vontade para discordar: é disso que o mundo é feito, e eu não aprenderia nada se vocês não adicionarem suas experiências às minhas. Por isso, escreva algo se você já atirou com uma PCP e nos conte como foi.

Até mais.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Teste: Pistola Airsoft KWA M1911 Mark IV PTP GBB - Parte 1


Hoje iniciamos mais um teste de uma arma de Airsoft. Mas antes de entrar no produto em si, deixe-me esclarecer um pouco como eu pretendo conduzir testes e porque escolhi fazer desta maneira.

Acompanho há muitos anos os testes feitos por Tom Gaylord através do seu blog diário Airgun Blog, e sinceramente, gosto do modo como ele tem divido seus testes em 3 partes: a 1ª traz uma apresentação geral da arma em questão, a 2ª traz os testes de velocidade, e a 3ª traz os testes de precisão, normalmente a 10m para Carabinas e Pistola de chumbinho, e 5m para armas de BB metálico e airsoft. No caso das armas de chumbinho, se a performance for boa a curta distância, novos testes a 25m e até 50m podem ser feitos.

No meu caso, eu vou padronizar a distância de testes em 10m, que é a distância que eu tenho disponível aqui em minha casa, e que acredito dará uma ótima ideia da precisão, tanto para armas de chumbinho como para airsoft. Não conseguirei produzir textos diariamente, mas pelo menos uma vez por semana haverá uma nova publicação. Como há tempos eu não postava nada, aproveitei essa semana para publicar alguns textos, e preparei este, especial, para recomeçar a nova fase do blog.

Vamos às apresentações então.



A pistola KWA M1911 Mark IV PTP é parte de uma série de armas deste fabricante de Taiwan desenhadas para oferecer o máximo realismo e assim poder ser utilizada para treinamento de profissionais que utilizem modelos semelhantes de armas de fogo. O "PTP" no nome da arma significa Professional Training Pistol, um indicativo claro da intenção de seu fabricante de prover não só uma arma para a diversão de jogadores não profissionais. A série PTP ainda conta com modelos como a Beretta M9 e a Sig Sauer M226, ambas de dotação das Forças Armadas dos EUA.

Mas é com a clássica pistola M1911 que a série PTP tem destaque. São 4 modelos, com pequenas variações de trilhos para acessórios, placas de empunhadura e outros detalhes cosméticos. No geral todas possuem travas ambidestras, cão esqueletonizado, trava de empunhadura tipo beavertail. São operadas a gás propano (green gas) que fica armazenado no magazine, e possuem blow black, o que dá uma ótima sensação de realismo ao tiro.



As miras são fixas, de perfil baixo, dotadas de pontos brancos para facilitar o enquadramento. O ferrolho (slide) tem, na versão Mark IV, ranhuras na parte dianteira e traseira (em alguns modelos desta série as ranhuras são um pouco diferentes). A parte frontal do chassis possui trilho tipo Picatinny para acessórios como uma laterna tática ou um laser. O gatilho possui um pequeno parafuso de ajuste para o curso, não tendo regulagem de peso.




Na versão Mark IV, não há bucha frontal. Outros modelos da série diferem nisso, e portanto, também quanto ao procedimento de desmontagem, mas todos seguem procedimentos copiados de suas congêneres reais. Particularmente, eu não gosto muito do sistema adotado pela MK IV, em que o pino guia da mola é integral e uma bucha o circula totalmente, pois é necessário inserir uma chave específica para a desmontagem. A KWA fornece a chave, mas o manual de instruções é muito pobre sobre o procedimento. Aviso: não perca essa chave, pois não é possível desmontar a arma totalmente sem ela!




Além da já mencionada chave de desmontagem ( a pecinha em L, acima na foto), a arma é fornecida com uma chave para a regulagem do hop-up, e com um magazine. Minha versão é das mais antigas, cujo magazine tem capacidade para 14 BBs. Novos magazines de 28 BBs foram lançados a algum tempo atrás, e eu adquiri um desse recentemente. Como veremos, uma pequena alteração na alavanca liberadora do slide foi necessária para o correto funcionamento com ambos os magazines. A empunhadura tem dimensões iguais a de uma M1911 monofilar. Observe na foto abaixo que o magazine novo (o da esquerda) tem um espaço maior do que o da direita, que comporta menor número de projéteis.




A arma é fornecida em caixa de papelão com "isopor", contendo encaixes para os diversos acessórios. O fabricante alerta que a arma foi desenhada para funcionar com BBs de peso superior à 0,25g. Mesmo assim (eu sou teimoso), vou atirar e medir a velocidade com BB's de 0,20g, que são o padrão do mercado, e verificar se há uma diferença muito grande de performance.

Por enquanto é só. Façam comentários, deixem suas dúvidas e e se você tiver sugestões a fazer quanto aos testes que se seguirão, fique a vontade. Meu intuito é aprender com isto e poder compartilhar com você leitores a experiência.

Até mais.


quinta-feira, 5 de março de 2015

Como importar Armas de Airsoft e Carabinas de Pressão

Há algum tempo atrás, em um blog sobre por que pagar para jogar Airsoft, comentei brevemente sobre os preços das armas importadas no Brasil, motivo de reclamação de 9 entre 10 atiradores brasileiros. Descontando a alta do dólar (neste momento em que escrevo, a cotação está batendo os R$ 3,00), os motivoss destes preços altos estão muito mais ligados aos impostos incidentes do que sobre o lucro dos importadores. Em virtude deste estigma, de que os importadores lucram muito, vários atiradores querem ter a possibilidade de importar diretamente, como pessoa física, uma arma de Airsoft.

Esta é uma das consultas mais frequentes à Secção de Fiscalização de Produtos Controlados, órgão do Exército Brasileiro responsável pelo controle de armas e munições no país. Sendo assim, replico aqui um link para as explicações bem detalhadas do SFPC sobre o assunto, e espero com isso esclarecer o tema para quem deseja importar Airsoft ou Carabinas de Pressão.


quarta-feira, 4 de março de 2015

Como Escolher sua Munição: Chumbinhos

Neste Blog, até meados do ano passado, nós nos dedicávamos exclusivamente ao Airsoft. Um de nossos posts mais visitados é Como escolher BB's para sua AEG., escrito pela Samanta. Neste momento porém nós resolvemos adotar uma política mais ampla e também escrever sobre carabinas de pressão. Afinal de contas, airsoft nada mais é do que uma carabina de pressão por pistão&mola acionada eletricamente. Sendo assim, hoje estaremos verificando o que é mais importante na hora de escolher um chumbinho adequado para sua arma.



Existem milhares de tipos e modelos de pellets disponíveis no mercado mundial, e para nossa sorte uma boa parte deles também está a venda no Brasil. Além dos importados, os nacionais estão aí e a indústria se esforça para melhorar seus produtos e oferecer preços competitivos no mercado.

Tendo isso em vista, como então selecionar o melhor tipo de chumbinho?

Primeiramente, vou deixar claro o que eu penso em termos de desempenho de uma carabina de pressão: para mim, o que importa é a precisão, sempre! Não interessa a velocidade na boca do cano, nem a trocentos metros de distância. Não importa qual o impacto, seja em gelatina balística ou pedra de sabão. Não importa se fura latinhas ou se fura um tanque de guerra. Para mim, se não é capaz de acertar o alvo, não me serve de nada.

Assim sendo, eu há muito tempo atrás defini que apenas chumbos capazes de agrupamentos muito pequenos são interessantes, e para determinar isso só há um modo: atirando em alvos de papel. Usando a melhor técnica de tiro possível, eu disparo pelo menos 10 tiros em alvo de papel a 10m de distância. O melhor agrupamento que tive até hoje foi de apenas 11mm, usando o chumbo RWS R10 calibre 4,5 em uma carabina Daisy M853.

Claro que nem todas as minhas armas fazem grupos pequenos como este, nem eu sou sempre capaz de atirar assim todos os dias. Mas usando grupos de 10 tiros, ao invés dos costumeiros 5 (ou 3), você será capaz de detectar melhor o comportamento do pellet naquela arma. Desconsidere os flyers, se for o caso, mas tenha a certeza de fazer cada tiro o seu melhor, para que a arma lhe mostre o que é capaz de fazer com aquela munição. Uma vez que você tenha se decidido, compre várias latinhas daquela munição.

E quanto ao estilo do chumbinho? É melhor um perfil redondo, plano, ou hollow point? É melhor um chumbo mais pesado ou mais leve?



Essas perguntas para mim são secundárias, senão irrelevantes. Eu tenho tido mais sorte com chumbos de perfil arredondado (round nose) do que com pontas planas e hollow points, mas isso não importa, se você está atrás de precisão absoluta. O peso será ditado pelo nível de energia de sua arma. Talvez ela prefira chumbos mais pesados, se for uma carabina mais potente. Mas deixe a carabina escolher livremente. Não force-a a escolher só porque você leu isso ou aquilo sobre determinada munição ou fabricante.

E aliás, não seja preconceituoso: teste tudo o que você tiver a disposição, do caro ao barato, do nacional ao importado. Apenas evite comprar aquela latinha que o balconista chacoalhou bem antes de te entregar (para quê? para saber se tem mesmo chumbinhos lá dentro??) pois isso deve ter deformado todas as "saias" dos pellets, e certamente aquela lata não terá boa performance.

Uma vez tendo seu chumbinho escolhido, sua carabina de ar cumprirá com louvor a missão para a qual foi projetada desde o início: trazer grandes alegrias para o seu dono atirador.

Bons tiros.