terça-feira, 23 de junho de 2015

Desarmamento: os argumentos mais estúpidos e como podemos utilizá-los em nossas vidas



Meus caros, eu gostaria de pedir a permissão de vocês para, usando de uma boa dose de sarcarmo, e quem sabe uma pitada de bom humor, debater alguns dos argumentos dos nossos difamadores desarmamentistas. Eles se utilizam de uma série de argumentos que realmente não tem nenhum sentido, pelo menos para nós (ou para pessoas com bom senso). Mas acontece que para eles (os desarmamentistas) esses argumentos fazem sentido!!!

Eles realmente acham que são as armas que matam pessoas, e não que pessoas matam pessoas! Eles realmente não acreditam no direito à Legitima Defesa, e se opõe a qualquer ação nesse sentido, acreditando que você deve realmente se entregar sem nenhuma reação ao bandido (ou melhor, à vítima da sociedade) e que este vai ter dó de você e de sua família, mas desde que você não faça nada de "errado", como por exemplo, chamar a Polícia para prendê-lo! Afinal, ele (o bandido) só está fazendo seu trabalho...

Sendo assim, eu resolvi explorar um pouco mais os argumentos usados por essa turma, e ver como eles se aplicariam se nós os expandíssemos para outras áreas da convivência humana. Da mesma forma que os desarmamentistas acreditam que as armas são as responsáveis pela violência (culpam o objeto pela ação humana), outros objetos também podem levar a culpa pelas nossas ações sem remorso! Olha aí a libertação verdadeira do ser humano! Você não tem culpa de mais nada, tudo é culpa dos objetos que te cercam e que de alguma forma "controlam" sua vontade, obrigando você a fazer coisas que você, na verdade, não queria! Eles, na frieza de suas existências - aparentemente - sem vida própria e sem vontade, na verdade nos dominam e nos obrigam a fazer coisas que não queríamos.Vejamos alguns exemplos.

Carros: Já que acidentes de carro tiram mais vidas do armas, começamos por aqui. Se as armas são as verdadeiras responsáveis pela violência urbana, nós podemos então entender que são os carros os culpados dos acidentes. Que ótimo! Assim, da próxima vez que eu bater meu carro, eu posso dizer pro outro motorista: "foi o carro!" Olha que fácil! Se eu for pego acima do limite de velocidade, também posso mandar essa:"o carro estava correndo muito (não era eu, era o carro que estava no comando)". Se você atropelar alguém então, tá fácil: " meu carro não gostou daquele cara! Não sei o que foi!"

Alimentação: gordinhos, prestem atenção nessa: vocês estão sendo manipulados por pratos e talheres há anos sem perceber. Isso mesmo: são os pratos fundos, esses malditos onde cabem muito mais comida do que você realmente precisa para se alimentar, os verdadeiros responsáveis pelo seu sobrepeso.
E os garfos então?? Fui a um restaurante onde tinha uns três tamanhos diferentes de garfos. Imaginando que eu tinha a obrigação de usar os três (senão os não-usados ficariam magoados), eu acabei comendo três vezes mais do que eu queria!
E aquela tal de Colher de Sopa, hein? Canalha dos talheres, ela só me faz comer bocados maiores que a minha boca! Acho que deveria existir uma proibição às colheres de sopa. Ou melhor: colheres restritas, somente para Forças Armadas. Para civis, colheres menores...

Celulares: o déficit de atenção nas escolas é culpa do celular! Claro! Eles mandam em nossas vidas. Desde que se tornaram mais espertos (ou melhor, smart) os celulares dominam nossas mentes e também a de nossas crianças. Não é responsabilidade deles (muito menos de seus pais): eles simplesmente obedecem às ordens dos celulares que os obrigam a checar as mensagens trocadas por outros celulares... não são outras pessoas enviando as mensagens, são somente os celulares fazendo isso pra nos prejudicar. Ou você achou mesmo que havia outra pessoa teclando do outro lado?

Cartões de Crédito: ahhh a invenção mais malévola da humanidade (depois das armas, é claro). Os cartões tem o poder maligno de tomar conta da sua mente de forma que você se tornará um consumidor desmedido, desenfreado e sem capacidade de fazer contas matemáticas simples. E você comprará! Ah sim, você comprará e muito! Não é você que tem problemas, é o seu cartão de crédito que está fazendo isso com você.

E por aí vai: se você é sedentário, a ponto de que isso prejudique sua saúde, a culpa é da televisão ou do sofá, ou de ambos. Se você foi mandado embora por ficar horas e horas no Facebook, a culpa é do computador, não é sua! Se você cair da escada, claro que a culpa é da escada!

Por essa linha de raciocínio, nós seres humanos nos livramos de todo o sentimento de culpa que nos acompanha desde o início dos tempos. Tudo é culpa dos objetos.

Modo Sarcástico off: claro que isso não é verdade! Você não engorda por vontade do prato, nem bate o carro por vontade... do carro! Nem faz compras porque o cartão de crédito mandou, e sim, tem alguém no outro celular te mandando aquilo, e por aí vai...

A responsabilidade das ações humanas é única e exclusivamente do homem e/ou da mulher que as cometeu. Quando será que vamos acordar para esse fato tão simples e inegável da vida? Ou vocês acham que se nós proibíssemos pratos fundos, teríamos menos pessoas obesas? Proibindo carros, teríamos menos acidentes, e proibindo cartões de crédito teríamos a economia pessoal em dia. Ninguém jamais morreu ao cair de um cavalo e nunca se ouviu falar em dívidas antes da invenção do cartão de crédito não é?

Na realidade, o que me parece é que no Brasil, estamos tentando criminalizar a Legítima Defesa. Primeiro as armas, agora até as facas estão no rol de objetos demonizados. Daqui a pouco, alguém vai dar uma martelada na cabeça de algum bandidinho, e pronto: mais um brilhante projeto de lei proibindo martelos para pessoas "não autorizadas a utilizar martelo, ou que não tenham provado sua real necessidade de um martelo".

Aliás, aquela martelada que eu dei em meu dedo... será que não foi culpa do martelo, não?

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Entendendo a Balística Externa - Parte 2




O workshop de Carabinas de Pressão está sendo montado e estamos montando a primeira turma. Se você tem interesse em participar, deixe seu nome e contato nos comentários, ou mande por inbox no Facebook.

Vamos voltar agora ao tema da Balística Externa. Na parte 1, vimos os efeitos da Gravidade sobre a trajetória e como ler as tabelas balísticas. Hoje vamos entender um pouco mais sobre a resistência do ar.

Arrasto

Todo o objeto que se move em uma massa de fluido encontrará uma resistência opondo-se a esse movimento. Vencer essa resistência depende de vários fatores, entre eles a forma. Projéteis inicialmente eram somente esféricos, e com o passar do tempo se tornaram ogivais, e depois se tornaram "pontudos" (ou "spitzer"), com o objetivo de assegurar uma menor resistência contra o ar. Essa capacidade de "furar" o ar com maior ou menor grau de dificuldade é normalmente mensurada através do Coeficiente de Arrasto.

O valor do coeficiente de arrasto pode ser calculado assim:

c_\mathrm d = \dfrac{ 2F_\mathrm d}{ \rho v^2 A}\,

Onde Cd = Coeficiente de arrasto

Fd = Força na direção do movimento
\rho\, = densidade do fluido (no caso, o ar)
v\, = velocidade do projétil
A\, = área equivalente

Portanto, a desaceleração do nosso projétil em voo vai depender desses fatores. Se o ar estiver, por exemplo mais denso (um dia mais frio, por exemplo), a desaceleração será mais acentuada.

Reparem porém que o arrasto é inversamente proporcional ao quadrado da velocidade, o que significa que um mesmo projétil, se disparado a duas velocidades diferentes, apresentará desacelerações diferentes. Ou seja, quanto mais rápido o tiro, maior a resistência do ar, e portanto, mais difícil vencê-lo.

Coeficiente Balístico

O BC é uma medida que combina três fatores em um: a massa, o diâmetro e o coeficiente de arrasto em um só número. Existem várias fórmula para calculá-lo, e uma das mais simples e didáticas é:

BC_{Projectile} = \frac{m}{ d^2 \cdot i} 

Onde:
m= massa
d = diâmetro do projétil
i = coeficiente de forma

Esse coeficiente de forma é calculado de diversas maneiras, incluindo-se o G Model, o qual compara as formas de diferentes projéteis contra um "projétil-padrão". A forma é importante, na medida em que isso serve para diferenciar projéteis com alto arrasto, como pontas canto-vivo, daqueles com baixo arrasto, como spitzers, e também bases planas de bases boat-tail.

Portanto, quanto maior é o BC de um projétil, melhor é sua capacidade de "perfurar" o ar, e portanto menor será sua desaceleração em voo.



Tabelas, tabelas, e mais tabelas...

Voltem um pouco os olhos para as duas fórmulas e reparem que o BC depende do Cd, e este depende da velocidade. Ou seja, o BC varia com a velocidade. Sabemos que ao longo de toda a trajetória do projétil em voo, a sua velocidade estará diminuindo. A que velocidade portanto devemos calcular um BC?

Isso é chamado de "natureza transiente" do coeficiente de arrasto, ou seja, ele varia de acordo com a velocidade, e portanto somente será verdadeiro em um velocidade e em um determinado ponto da trajetória onde essa velocidade foi tomada . Para calcular com precisão absoluta o BC, é necessário utilizar radares Doppler para acompanhar a trajetória do projétil, o que claramente não está ao alcance de um atirador comum. Nós pobres mortais lançamos mão de valores coletados em tabelas, geralmente feitas pelos próprios fabricantes, que nos dão um valor de BC para cada projétil como se fosse um número fixo. Na verdade não é, mas é aproximado para as velocidades nas quais aquele projétil foi projetado para ser utilizado.

Já escrevi sobre isso em outro post, mas você deve se lembrar do propósito de uso do BC, antes de mais nada. O BC servirá para você dizer ao software balístico qual é a sua forma - ou melhor, sua resistência ao ar - e com isso ele calculará a desaceleração e aproximará uma trajetória. Esta não será nunca exatamente igual à real, porque entre outras coisas você não está colocando nesse software dados precisos sobre a densidade do ar, por exemplo. Sendo assim, sempre será uma estimativa.

Efeito prático da resistência do ar

Na prática, a resistência do ar causa uma desaceleração maior ou menor no projétil durante seu voo. O efeito mais imediatamente sentido pelo atirador é o da mudança do ponto de impacto. Num dia, sua arma está perfeitamente ajustada, e no dia seguinte não está mais... o que teria acontecido.

Ora, como vimos, até a densidade do ar, afetada pelas condições meteorológicas, vai mudar seu tiro. Isso é especialmente sentido à longas distâncias, pois as diferenças serão mais notáveis. Por isso, não fique tão frustrado quando chegar ao estande de tiro e verificar uma mudança do ponto de impacto. Apenas ajuste a sua mira. Não há nada de errado com seu equipamento.

BC para Chumbinhos Diabolô

Se você nunca viu uma tabela de BC para chumbinhos, aqui você encontrará uma. Repare bem que, enquanto projéteis de fuzis tem BC que vão de 0,1 à 0,9, os chumbinhos tem números bem inferiores. Isso se deve em parte ao formato, mas em parte também devido ao baixo peso (massa), que como vimos, entra no cálculo do BC.

Na próxima parte, veremos os efeitos do vento sobre o projétil, e como podemos lidar com ele durante os tiros, especialmente de longa distância.

Até lá.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Video: Pistolas de Ar e Airsoft

Novo Video, pistolas de ar e airsoft:


Se você tem pistolas, compartilhe com a gente. Se gostou do video, se inscreva no canal.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Entendendo a Balística Externa - Parte 1





Antes de entrarmos no assunto propriamente dito, deixe-me comentar que estou montando um workshop de carabinas de pressão. Nele vamos tratar sobre diversos temas técnicos, mostrar e atirar com carabinas de diversos sistemas (Mola, PCP, etc), ensinar como melhorar seu desempenho como atirador e muitas outras informações. Interessados deixem seu contato nos comentários deste blog ou via inbox no Facebook.

Nesta parte 1, apresento os conceitos básicos do que é Balística Externa. É um assunto interessante, mas bastante técnico e aprofundado, e pretendo esclarecer em uma linguagem que seja apropriada para que nossos leitores (que não são técnicos nem engenheiros) a entendam. Como Engenheiro que sou, sei que não vai ter jeito de fugir das leis da Física e vez por outra, uma fórmula ou um gráfico vai aparecer aqui e ali, mas espero que isso não os canse demais. Se você ainda não saiu da Escola, esse é um bom momento para prestar mais atenção nas aulas de Matemática e Física. Se já saiu, e bater aquele arrependimento, só me resta dizer: valorize mais os Professores!

Definição

Balística Externa, ou Exterior, é o estudo do comportamento de um projétil não-propelido em voo, ou seja, é a ciência relacionada a tudo o que acontece com o projétil entre a saída pela boca do cano até seu contato com o alvo. Apenas para lembrar, as outras duas partes do estudo da Balística são a Interna (tudo o que acontece antes do projétil deixar o cano, ou seja, ainda dentro da arma) e a Terminal (tudo o que acontece após o contato do projétil com seu alvo). Normalmente associamos Balística à armas de fogo, mas também se aplicam a outros projéteis, como flechas, bolas, e até satélites em reentrada na atmosfera.

Para entender a Balística Externa, precisamos primeiramente conhecer as forças que atuam sobre o projétil durante seu voo. As três principais forças atuantes são a Gravidade (g), o arrasto e o vento (se houver). A Gravidade vai puxar o projétil para baixo, fazendo com que a trajetória seja uma parábola, enquanto o arrasto causa uma desaceleração por conta da resistência do ar. O vento, se estiver presente, pode alterar a trajetória durante uma parte ou a totalidade de seu voo.

É importante notar que, se pensarmos em distâncias médias ou longas, outros fatores podem estar presentes além destes três, como por exemplo, o ângulo vertical da trajetória (para cima ou para baixo), a densidade do ar (que pode ser diferente em trajetórias muito longas), e efeitos como Giroscópio (Spin), Efeito Magnus e Efeito Coriolis, apenas para citar alguns. Para não complicar nossa leitura, vamos inicialmente nos concentrar em entender o básico primeiro, ou seja, o efeito da Gravidade.

Estabilidade e trajetória

Atiradores modernos tem conhecimento dos efeitos do giro estabilizador provocado no projétil pelas raias, mas vou explicar um pouco mais, sem entrar no âmbito da Balística Interna. Um projétil como uma flecha é estabilizado em voo pelas penas que atuam na cauda, forçando o Centro de Pressão a ficar atrás do Centro de Gravidade, o que explica em parte sua capacidade de girar em voo. Num projétil de fuzil ou carabina, o CP está a frente do CG, e isso é um desestabilizador. As raias helicoidais presentes no cano forçam-no a girar em voo, corrigindo a estabilidade e vencendo o problema do CG à frente do CP.



Especificamente no caso de carabinas de pressão que utilizam projéteis do tipo Diabolo, acinturados, além do giro causado pelas raias, existe ainda o efeito de pressão na parte de trás, o que força o CP para trás do CG, e portanto colabora para a estabilidade durante seu voo. Durante o tiro, as carabinas de pressão não conseguem gerar a mesma energia de aceleração que uma arma de fogo, e por isso não conseguem imprimir aos projéteis a mesma taxa de giro. Portanto, além de diminuir o atrito com o cano, o formato peculiar dos chumbinhos também tem um efeito aerodinâmico de pressionar o CP para trás do CG, estabilizando o projétil. Daí a importância deste desenho.

Para o nosso estudo, a estabilidade é importante pois sem ela nós não teríamos como predizer o comportamento em voo de um projétil. Se instável, sua trajetória será quase aleatória, ou melhor, terá tantas influências causadas pela instabilidade que será quase impossível determiná-las e quantificá-las corretamente.

Efeito da Gravidade sobre a trajetória

Qualquer projétil começa a sofrer os efeitos da Gravidade a partir do momento em que deixa o confinamento do cano. A partir daí, ele sempre será puxado para baixo. Por isso, de modo a atingir um alvo distante, o cano deve ser apontado para cima, em uma linha que diretamente não aponta para o alvo, mais sim para um ponto acima deste, e que chamamos de linha de saída ou de partida (line of departure). Por definição, bullet drop (queda do projétil) é definida como sendo a distância vertical entre a linha de partida e a trajetória do projétil em qualquer ponto do voo. Mesmo quando essa linha é apontada para baixo (no caso de um ângulo vertical negativo), ainda assim o projétil vai continuar a cair a partir da saída do cano.



É importante não confundir isso com a linha de visada, ou seja, com a linha entre as miras, o alvo e os olhos do atirador. Como nós não fazemos mira através do centro do cano, mas acima dele e em um ângulo que compensa a parábola descrita pelo projétil, nos acostumamos a referenciar sempre à linha de visada, e a linha de saída do cano tem pouca utilidade, a não ser para o cálculo de outros parâmetros.

O Caminho da Bala

Como o projétil está sempre caindo, nós intuitivamente sabemos que temos que apontar para cima de modo a que ele, a uma certa distância, tenha caído apenas o suficiente para acertar nosso alvo. Fazemos isso utilizando um aparelho de pontaria que está normalmente situado acima do cano em um leve ângulo em relação ao cano. Isso equivale a dizer que nosso projétil iniciará sua viagem abaixo de nossa linha de visada, e em algum momento irá cruzá-la duas vezes. Na primeira, próxima de nós, ela estará ainda subindo (na verdade, em relação à linha de partida, está sempre descendo), e continuará a fazê-lo até atingir seu ponto mais alto e então começará a cair novamente, até chegar ao solo. Do chão não passa (espera-se!).

Esses dois pontos de cruzamento entre a visada e a trajetória são de fundamental importância para o atirador. Eles determinam o zero, o seja, a distância exata no qual nossa linha de visada corresponde à queda do projétil. O primeiro chama-se zero inicial (Near Zero), e o segundo chama-se zero afastado (Far Zero). Se medirmos a distância vertical entre a trajetória do projétil e a linha de visada podemos determinar com exatidão o caminho percorrido pelo nosso projétil durante seu voo, e é popularmente conhecido como "o caminho da bala". Antes do zero inicial, essa distância vertical é negativa (abaixo da visada), entre os zeros inicial e afastado ela será positiva (acima da visada), e após o zero afastado será negativa novamente (abaixo da visada).

Obviamente, se alterarmos a nossa linha de visada, os parâmetros de zeros serão diferentes, mas a trajetória do projétil muda muito pouco. Em relação à linha de saída do cano (departure line), considerando-se sempre a mesma velocidade de saída, a trajetória do projétil muda muito pouco, a não ser em ângulos extremos. O que muda é o caminho feito em relação à linha de visada.

É importante entender isso para que possamos seguir adiante. Quando você altera sua mira, está alterando a sua visada, e consequentemente o ângulo do cano em relação à visada. Mas o projétil, se mantida a mesma velocidade de saída, continuará a descrever a mesma trajetória em relação ao ângulo de saída do cano.

Dessa forma podemos agora entender como ler as tabelas balísticas publicadas pelos fabricantes de munição.

Range0100 yd
91 m
200 yd
183 m
300 yd
274 m
400 yd
366 m
500 yd
457 m
Velocity(ft/s)2,7002,5122,3312,1581,9921,834
(m/s)823766710658607559
Zeroed for 200 yards/184 m
Height(in)−1.52.00−8.4−24.3−49.0
(mm)−38510−213−617−1245
Zeroed for 300 yards/274 m
Height(in)−1.54.85.60−13.1−35.0
(mm)−381221420−333−889

Nesse caso, a duas primeiras linhas mostram, em pés/seg e em metros/seg, as velocidades alcançadas a varias distâncias. Após, o caminho com um zero (afastado) de 200 jardas (184m) e com zero de 300 jardas (274m). As trajetórias, em relação à linha do cano, são as mesmas. O que mudou foi o ângulo do cano em relação à linha de visada.

Veja a figura abaixo:


Ela mostra três linhas de trajetórias para uma mesma carga (no caso, um .308Win). Apenas considerando-se as duas linhas de baixo, pode-se ver claramente que elas são quase iguais, apenas estão em ângulo diferente, e por isso, em relação à visada (a linha demarcada como zero no gráfico), as distâncias verticais são diferentes. 

A terceira linha, mais acima, mostra o que acontece com um ângulo mais extremo. Neste caso, temos uma conjunção de forças um pouco diferente em ação, o que será explicado em um futuro post. Por enquanto, vamos nos ater somente à situação, digamos, mais normal de tiro, ou seja, um tiro horizontal.

E por que então um projétil mais rápido tem trajetória mais achatada do que outro mais lento? Ora, porque a Gravidade tem mais tempo de atuar sobre um projétil mais lento. Sendo assim, quanto mais rápido, menos efeito da Gravidade o projétil sofrerá. Isso causa o achatamento da trajetória, que chamamos de "trajetória tensa". Projéteis mais leves tendem a ser mais rápidos, e por isso é que suas trajetórias são mais retilíneas que outros mais pesados.

Entendido o efeito da gravidade sobre o nosso projétil em voo, no próximo post, vamos entender um pouco mais sobre o arrasto, a resistência do ar. Vamos entender o que é coeficiente balístico e como ele afeta nossos cálculos. Depois veremos os efeitos do vento, e outros efeitos que afetam tiros à longas distâncias.

Se você ficou com dúvida ou quer esclarecer melhor alguma coisa, deixe sua pergunta nos comentários. Eu não sou nenhum doutor em Balística, mas vou fazer o melhor que posso para sanar sua dúvida.

Até mais.



sexta-feira, 5 de junho de 2015

Qual é o Máximo Alcance Efetivo de Minha Arma de Pressão?



Em inglês, usa-se o termo "point blank range" para duas situações distintas entre si: uma é a de um tiro a curta distância, aquele impossível de errar, e que seria traduzido em português como "à queima-roupa".

Outro uso porém está ligado à máxima distância dentro da qual um projétil ficará, ao longo de toda a sua trajetória, dentro de um limite acima e abaixo da linha de tiro. Em termos práticos, é a distância dentro da qual o tiro irá acertar um lavo de um certo tamanho sem que sejam necessárias correções na visada.

Observe o gráfico abaixo:



Neste exemplo, um atirador está tentando acertar um alvo de 6 polegadas de diâmetro. Ele portanto não quer que seu projétil suba mais que 3 polegadas acima da linha de visada, nem que ele caia abaixo de 3 polegadas. Sendo a sua linha de visada mais alta 1.5 polegada do que o centro do cano, sabe-se que desde o primeiro momento o projétil já está dentro dos limites.

Como determinar isto? Usando um moderno sistema de cálculo balístico (como o Chairgun) é fácil determinar a trajetória se você conhece a velocidade inicial e o coeficiente balístico de seu projétil. O Chairgun ainda tem a grande vantagem de ser apropriado para carabinas de ar (o que nem todos são), então se você está lendo este blog com um interesse em carabinas de ar, ele é um dos melhores do mercado.

O único senão nesta explicação está no fato de que nem sempre sabemos a velocidade exata de nossas armas (por isso recomenda-se o investimento em um cronógrafo), nem sabemos calcular exatamente o BC de nossos pellets (que variam com a velocidade). Como posso então fazer os cálculos de um jeito "caseiro" e sem grandes somas investidas?

Tem um modo relativamente simples. Desenhe em uma folha de papel 5 circulos de um tamanho compatível com suas necessidades. Por exemplo, circulos de 1 polegada de diâmetro. Desenhe-os todos na horizontal.

Agora, posicione o alvo a uma distância relativamente curta. Por exemplo 20m, e atire no segundo círculo a essa distância. Atire pelo menos 5 disparos apoiado e zere a luneta exatamente no centro do alvo a essa distância. Tendo feito isso, traga o alvo a uma distância menor, digamos 10m, e atire no primeiro alvo. Após, leve o alvo aos 30m e atire no terceiro círculo, depois à 40m e atire no quarto e por último atire à 50m no quinto alvo. Em todas as distâncias, mantenha a visada exatamente no centro do alvo e não se preocupe onde os seus tiros cairão em relação à visada. Ou seja, não conpense de forma alguma.

Ao final, você poderá traçar uma trajetória passando pelo centro dos agrupamentos entre 10 e 50m. a linha de alvos fará o papel de linha de visada e seus impactos vão lhe mostrar qual a variação a cada distância. Lembre-se de que, como a linha de visada está mais de uma polegada acima do cano (normalmente), é esperado que o primeiro grupamento seja abaixo do alvo.

Determinando esta trajetória inicial, verifique onde está o ápice, o ponto mais alto da trajetória. Pode ser que as distâncias inicialmente previstas não sejam as mais adequadas e você tenha que refazer o teste em outras distâncias, mas ele terá o mesmo procedimento entre 10 e 50m ou entre 5 e 25m. Determine o ápice e quanto ele está acima da linha de visada, medindo a partir do centro do grupamento.

Com esta informação, é fácil você estimar onde está o zero ideal para a sua combinação carabina/luneta/chumbinho. Basta você ajustar para que o ápice fique dentro dos limites que você escolheu (no nosso exemplo, 0.5 polegada acima da visada) e repetir o teste para verificar onde o sua trajetória cruza com a linha de visada.

Acredite, é mais difícil explicar do que fazer na prática. Tente, e depois comente aqui os resultados. Claro que se você tiver acesso à um programa como o Chairgun, tudo fica mais fácil pois ele calcula tudo para você. Mas tenha em mente que outros fatores não computados podem afetar seu tiro, e por isso, nada como uma demonstração prática para tirar a teima.

Faça o teste. E bons tiros.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Potência X Precisão

... e o nosso novo canal no You Tube!

Já faz algum tempo que venho pensando em fazer alguns vídeos para complementar os textos do Blog. Nessa semana, a ideia saiu do papel e conseguimos produzir nossos primeiros videos.

Além desse canal, a gente também está com uma página no Facebook. Acesse https://www.facebook.com/airsoftcarabinasdear , tudo o que a gente divulgar aqui vai também ser publicado lá.

Nessa semana, o tema é Potência X Precisão. Veja o video, clique em "gostei" e se inscreva no canal. A Gente pretende subir um video novo por semana. Esperamos os comentários de vocês sobre quais temas querem ver tratados aqui. Se tiverem perguntas, vamos tentar respondê-las através deste canal.


quinta-feira, 28 de maio de 2015

A controvésia sobre as facas no Brasil

Hoje vou me aventurar a escrever um pouco sobre um tema diferente do escopo original do blog. Da mesma forma como muitos entusiastas dos esportes do tiro, seja com carabinas de pressão ou não, eu também tenho um especial interesse por cutelaria. As lâminas são parte do cotidiano de todos, mas no meu caso em particular, já há muitos anos fazem parte do meu indumentário de uso diário. Eu nunca saio de casa sem meu canivete Victorinox em meu bolso.

Quando escrevo este artigo, o Rio de Janeiro sofre um sequência de assaltos, em zona nobre da cidade, em que os criminosos fazem uso de armas brancas para ferir e até matar suas vítimas, mais uma vez demonstrando o total fracasso da estratégia governamental de desarmar o cidadão. Aliás a imprensa até parou de relatar casos de "balas perdidas", agora é só assalto com faca que interessa. Não satisfeitos, claramente com objetivo populista e totalmente inconsequente, o excelentíssimo senhor deputado lincoln portela (sim, em letras minúsculas mesmo... ) apresentou projeto de lei que limita o "porte de arma branca"! Se você votou nele, ou no partido dele, sinta-se a vontade para sentir vergonha e por favor não faça mais isso. Transcrevo aqui o que saiu na imprensa como sendo o objeto de tal projeto:

"Conforme a proposta, o porte de facas em via pública acarretaria em pena de prisão de até um ano e ou multa. Para caracterização de crime, conforme dispõe emenda do projeto, a proposta prevê que seja analisado o tipo de arma, local da prisão, conduta e antecedentes do preso. O projeto faz ainda ressalvas quanto ao transporte da arma branca entre os locais de depósito e utilização, além de excluir da proibição armas brancas usadas por "profissionais, esportistas, caçadores, pescadores e outras atividades e situações que justifiquem o seu uso"."

O que definirá as "situações que justifiquem seu uso"? Se eu for abordado pela Polícia em situação absolutamente normal e estiver com meu costumeiro canivete no bolso, serei preso? Mais: se comprar uma faca no supermercado mais próximo, devo trazê-la imediatamente para casa sob risco de ser preso por porte de arma branca?

Se estiver indo ou voltando de um churrasco, para onde levei ou estou levando minha faca gaúcha, devo ter alguma documentação que me autorize a tal conduta? Que profissões são essas que terão "porte de faca autorizado"? Churrasqueiros, açougueiros e cozinheiros estarão entre eles?

Enfim, vocês podem já imaginar que tal projeto é um total descalabro. É absolutamente ridículo, e mais uma vez não ataca o ponto crucial da violância urbana do país. Ninguém se escandalizou com o fato de que o autor de um dos crimes é menor de idade e já foi preso 15 (isso mesmo: quinze!) vezes. Ou seja, foi solto quinze vezes pela (in-)justiça brasileira.

Além de ser totalmente impraticável (como eu disse, quais são as justificativas que permitiram analisar de maneira objetiva as intenções criminosas de alguém que esteja de possa de uma faca?), é uma lei desnecessária. A definição de arma branca é um objeto perfurante ou cortante que tenha sido usado com intenção criminosa. Portanto, se alguém te assaltar com uma tesoura, esse objeto automaticamente estará enquadrado como arma branca. Será que o nobre deputado lembrou de incluir na lista de armas proibidas pela sua lei as tesouras, escolares inclusive, os estiletes, os espetos de churrasco e outros objetos potencialmente perigosos? Sendo irônico, não seria o caso de proibir também bengalas, guarda-chuvas de cabo longo, fios elétricos e qualquer outro objeto que possa ferir? Sim, pois parece que o brasileiro médio é como uma criança de 5 anos que não tem responsabilidade para lidar com essas coisas!

A proposta também desconsidera a cultura nacional em um nível que eu jamais imaginei. Depois de decidir como as famílias devem educar seus filhos, agora o Governo se acha no direito de tirar do cidadão uma ferramente que há milhares de anos, faz parte do dia-a-dia de todos nós! Do gaúcho ao baiano com sua peixeira, do boiadeiro ao matuto com seus facões, ao interiorano que como eu leva seu canivete todos os dias no seu bolso, o brasileiro tem uma relação longa com lâminas de diferentes tipos. É tão brasileira a Faca Gaúcha e o Facão de Mato, quanto é americana uma Faca Bowie, ou é espanhola uma Navaja. Como se pode, por conta da ação criminosa de meia dúzia de moleques, prejudicar toda uma nação?

Eu espero que nosso deputados, que vem defendendo a descriminalização do porte de armas de fogo (a chamada Bancada da Bala), que derrubem essa tentativa ridícula de se impor uma lei totalmente sem efeito sobre o criminoso, mas que prejudicará milhares de cidadãos honrados e honestos.

E por favor, vejam se não soltam esse bandido só porque ele é menor de idade! ele sabia bem o que estava fazendo quando esfaqueou sua vítima!



terça-feira, 12 de maio de 2015

Tanques de Airsoft

Para quem é atirador de Airsoft, é mais do que natural o gosto por outros itens de militaria. Carros de Combate, popularmente chamados "Tanques de Guerra", sempre exercem fascínio pelo seu poderio.

Já imaginou um destes fabulosos CCs atirando airsoft? Pois é, eles existem!

Fabricados em escala 1/16 ou 1/24, e equipados com controle remoto, os tanques RC são equipados com "canhões" que na verdade são mecanismos de airsoft radiocontrolados. Sua torres tem magazines e o disparo é surpreendentemente preciso. Confira nos vídeos abaixo. O primeiro deles é o M41 Walker Bulldog, que foi largamente empregado no Brasil (alguns Regimentos de Cavalaria Blindada ainda possuem este modelo) como M41C Caxias.




quinta-feira, 16 de abril de 2015

Pneumáticas Multi-pump


A Crosman M4-177 é uma "réplica" da Colt M-4, apenas que usando o sistema multi-pump pneumático. Versatilidade total em uma leve carabina de ar.

Poucos são os colegas atiradores, pelo menos entre os frequentadores dos clubes de tiro de que eu sou associado, que atiram com carabinas de ar. Dentre estes, a imensa maioria atira com armas de pistão e mola. Uns poucos investiram mais e atiram com PCPs, mas são minoria, devido ao custo mais alto deste sistema, além do fato de exigir acessórios igualmente caros, como cilindros e/ou bombas manuais. Porém nem só de pré-carregadas vivem as pneumáticas: raríssimos são os atiradores de pneumáticas multi-pump ou single-pump.

No Brasil, as pneumáticas sempre foram desprezadas. Na década de 1990, com a abertura das importações, algumas Crosman e Daisy foram trazidas mas sua aceitação pelo público sempre foi menor do que, por exemplo, nos EUA, onde essas armas são a porta de entrada da imensa maioria dos atiradores juvenis. Sim, a primeira arma de pressão de um jovem americano costuma ser uma multi-pump e não uma arma de mola, como aqui.

Os primeiros modelos trazidos nessa época para o Brasil eram desses modelos juvenis. Bastante leves, e feitos em polímero (plástico), esses modelos dão a impressão de se tratar realmente de um brinquedo, mais do que de uma arma. Mas a verdade é que uma multi-pump pode ter uma potência bem maior do que se pode presumir pelo seu jeitão de "brinquedo". Algumas são potentes o suficientes para serem usadas na caça de pequenos animais.

Uma das armas objeto deste post já se tornou conhecida dos brasileiros, mais pela sua aparência do que por suas vantagens técnicas. A Crosman M4-177 é inspirada na famosa Colt M4, utilizada pelo Exército dos EUA (e aqui no Brasil utilizada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha). Não chega a ser exatamente uma réplica, mas é suficientemente parecida a ponto de ser confundida por olhos menos atentos.

Extremamente leve, a arma apresenta corpo em polímero e coronha retrátil, bem ao estilo M-4. A versatilidade desta arma está justamente no fato dela se adaptar bem à diferentes situações sem qualquer modificação: pode-se atirar dentro de um apartamento com apenas 3 bombadas e atirar a maiores distâncias com o máximo recomendado de 10 bombadas. Também tem os costumeiros trilhos para lunetas e red-dots, mas com uma grande vantagem em relação aos seus congêneres de pistão-e-mola: ela não tem nenhum recuo.

Outra arma muito interessante nesse sistema é a pistola Zoraki HP-01 (conhecida nos paises de lingua inglesa como Webley Alecto). A Zoraki permite tiros variando de uma à três bombadas, o que praticamente duplica sua velocidade. Mais uma vez, é uma arma extremamente adaptável justamente por isso.


Ao lado de duas armas Taurus, um revólver M-44 .44 Magnum e uma PT-945 .45ACP, a pistola Zoraki é uma das melhores opções entre as armas curtas pneumáticas.

Como todas as armas pneumáticas, sejam elas pré-carregadas, multi ou single pump, elas não tem recuo pois quase não há peças móveis no ciclo de disparo. Há apenas a liberação do ar sob pressão atrás do chumbinho. A diferença entre uma PCP e uma Multi-Pump é que nesta última todo o ar acumulado em sua câmara (reservatório) de ar é liberado a cada tiro, enquanto na PCP apenas uma parte é liberada, podendo-se dar mais de um tiro com uma só carga de ar. Mas, ao final desta, uma nova carga de ar deve ser colocada, e se você estiver usando uma bomba manual, verá que a diferença entre uma Multi-Pump e uma PCP está apenas no momento em que se faz o bombeamento. Ou você dá 3 à 10 bombadas a cada tiro, ou dá 100 bombadas seguidas por vários tiros.

Muitas pessoas perguntam se uma Multi-Pump pode ser tão potente quanto uma PCP. Em teoria sim. Porém o sistema todo deveria ser muito mais robusto (e pesado) para que o reservatório contivesse ar suficiente para dar um tiro mais potente. Não é a toa que as bombas manuais são acessórios caros. Por outro lado, você tem todo o sistema junto das suas mãos em uma Multi-pump, enquanto as PCPs sempre vão exigir acessórios externos.

Se você sempre sonhou em tiros sem recuo, mas não quer investir tanto como numa PCP, considere uma Multi-Pump. Pode lhe parecer em princípio que há muito esforço envolvido para bombear várias vezes a cada tiro, mas isso na verdade é irrelevante, pois o esforço é pequeno, muito menor do que o requerido numa PCP com bomba manual.

Abraços e bons tiros.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Contundido!

E eu que achava que contusão era coisa pra jogador de futebol...

Estava me preparando para as atividades do fim de semana, que incluiriam um passeio de bicicleta pelos agradáveis Parques da cidade de Jaguariúna e uma tarde de tiro no Clube ABAP-Nutto Tilli, quando sofri uma distensão muscular nas costas. Resultado: estou "de molho", e parte dos testes que resultariam nas postagens novas desta semana ficaram comprometidas.

Nesse momento, a dor nas costas já aliviou bastante, mas continuo a senti-la um pouco dolorida, o que me impede de fazer maiores esforços físicos, incluindo-se aí armar e engatilhar uma carabina de ar. Assim meus posts vão ficando atrasados.

De qualquer maneira, enquanto me recupero, peço aos amigos leitores que aproveitem o tempo e me contem sobre o que gostam de ler na internet quando o assunto é Carabinas de Ar. Coloquei um pool no menu lateral, e dessa vez espero que o tenha feito da maneira correta! O último que fiz tive que tirar do ar pois era impossível ver os resultados.

O campo de comentários também continua ativo. Muitos leitores vêm dos grupos do Facebook, e acabam fazendo seus comentários lá. O interessante é que no Facebook, tudo é muito imediatista, e o que você coloca hoje amanhã quase ninguém mais consegue ver, tantas são as novas postagens. Afinal, alguns dos grupos dos quais eu participo tem mais de 5000 participantes! Deixe seu comentário aqui, pois assim, mesmo após anos da sua postagem, você e outras pessoas poderão encontrá-lo.

Um abraço a todos e bons tiros.

terça-feira, 24 de março de 2015

O Lado Negro da Força: Carabinas PCP - Parte 3



Em meu último post sobre este assunto, comentei um pouco sobre como foram os testes de velocidade x pressão, e que me ajudaram a determinar com mais exatidão os tiros úteis e as pressões máximas com que eu deveria trabalhar.

Por essa época eu somente tinha acesso à bomba original da Benjamin, comprada juntamente com a carabina. Esta sempre me serviu bem, nunca apresentando nenhum tipo de defeito. Como a pressão de trabalho é baixa (máxima de 2000PSI, mas mais exatamente 1700PSI na minha carabina), enchê-la com ar sempre foi uma tarefa simples: com cerca de umas 50 bombadas, você traz a pressão de uns 900PSI para 1700PSI, e isso não é cansativo nem extenuante. Eu, que havia lido sobre gente perder o fôlego de tanto esforço, ou usar adjetivos cruéis para qualificar o uso de uma bomba, sempre achei graça ao comparar com o nível de esforço necessário na Discovery.

Um probleminha persistia: a carabina estava vazando! Não de um dia para outro, mas depois de uma semana, a pressão inicial de 1700PSI já estava na casa de 1200PSI. Perguntei a ninguém menos do que o próprio Tom Gaylord, que me instruiu a lubrificar antes o conector para que qualquer impureza fosse varrida pelo ar entrante, e assim a válvula se fecharia a contento. Esse é o principal motivo de vazamentos em PCPs, e que é facilmente resolvido dessa maneira. Bem, tentei de tudo, e nada resolvia. O teste de bolhas de sabão me mostrava que o ponto de vazamento realmente era a válvula, e era difícil de detectar, pois a quantidade que vazava era muito pequena.

Eis que um dia estou no meu clube de tiro e me deparo com um colega atirando com sua PCP e com seu cilindro de ar. Eu nunca havia usado um, e pedi a ele que me explicasse como usá-lo. Peguei minha Discovery, conectei a mangueira, e ele me disse: "agora abra a válvula lentamente!

Vapt! Abri como quem abre a torneira da cozinha! A pressão ficou pouca coisa abaixo dos 2000PSI preconizados pelo fabricante para a Discovery, e meu colega com cara cara de assustado, me explicando o que ele queria dizer com lentamente... Foi mal...

Só atirei um pouquinho com a arma depois disso, e carreguei mais umas duas vezes antes de ir embora (para os atiradores de armas de fogo, um aviso: carabina de ar é assim mesmo: atirar um pouquinho significa menos de uns 200 tiros!). Ao chegar, guardei a arma em meu cofre, costumeiramente mantendo uma pressão de aproximadamente 1700PSI. 

Na semana seguinte, percebi que não havia vazado nada. Nadinha! Nem mesmo 100PSI, que é normal pelo resfriamento do ar comprimido que aqueceu durante o enchimento. O vazamento estancou! Ou seja, graças ao ar do cilindro, qualquer sujeira presente na válvula se desprendeu e assim a carabina deixou de vazar.

A partir desta constatação, passei a cuidar ainda melhor da minha bomba. Sempre lubrificada (mas não em excesso), com um saco plástico protegendo a mangueira e o conector, e sempre bombando antes para se livrar da poeira. Isso ajuda a prevenir novos vazamentos pela válvula.

Mas isso não é tudo, nessa conversa de bomba x cilindro. Este mesmo colega, após algum tempo, apareceu de novo no clube, só que desta vez, sua carabina (uma Marauder) precisava de ar e seu cilindro já estava ficando vazio. Tem solução? Tem, empresta a bomba do Fred. 

Lá foi meu colega bombear até encher a Marauder a 3000PSI. Confesso que nunca vi um cara suar tanto! Eu fui ajudá-lo, e quase tive que montar em cima da bomba para colocar mais 100PSI. Até por volta dos 2500PSI, bombear vai bem... depois disso, meu amigo, é castigo!

Perguntei então se ele sabia qual era a pressão de preenchimento ideal para a sua carabina, se ele havia feito os testes com cronógrafo (vide parte -2). Como não havia feito, ele sempre encheu sua arma conforme o manual, ou seja até 3000PSI. A rigor, nada de errado nisso, mas talvez ele não precisasse se esforçar tanto para ter um desempenho aceitável. Pior, talvez todo esse esforço sequer estivesse dando-lhe o melhor desempenho possível de sua arma.

Ele nunca havia pensado nisso. Usando um cilindro exclusivamente, nunca foi necessário qualquer esforço para encher a sua Marauder. Então ele também nunca pensou talvez ela gostasse mais de uma pressão de trabalho menor.

Isso me serviu de novo para abrir os meus olhos. Uma boa parte dos atiradores de PCPs não sabem como tirar seu melhor desempenho, ou simplesmente acreditam no que lêem, seja no manual, seja em algum fórum. Se você está lendo isso, não se limite àquilo que eu fiz. Faça o teste você mesmo. E depois, comente o que você descobriu. Você se surpreenderá com o que irá aprender.

Mas o que eu não havia percebido até esse dia era a diferença entre usar um cilindro e uma bomba manual, mesmo numa carabina como a Discovery. Realmente, o cilindro é muito melhor e mais fácil de usar... enquanto ele está cheio! Vazio, ele é um peso morto total. Óbvio, você vai dizer... mas a questão é que ele esvazia nos piores momentos, e se você só tem o cilindro, sua sessão de tiros acabou ali. Até que você possa levá-lo a uma loja de mergulho e enchê-lo novamente, ele é só um peso morto.

Outra coisa que eu percebi é que o cilindro é extremamente pesado. Eu achava que a bomba manual era incômoda para se levar, mas o cilindro, pelo menos do tipo usado pelo meu amigo, era extremamente pesado e impossível de ser carregado. Não é o tipo do equipamento que você leva consigo em suas andanças pelo mato. Eu já fui com amigos atirar em alvos de oportunidade em campo, e com minha Discovery, eu tinha 20 tiros úteis antes de precisar enchê-la novamente. Também confesso que não levei minha bomba, optei por deixá-la no meu carro.

Outra coisa ficou muito clara: enquanto a bomba não dá manutenção nenhuma, o cilindro exige um cuidado todo especial. Para início de conversa você só consegue carregá-lo se ele tiver sido aprovado em um teste hidrostático, para detectar micro fissuras que afetam a integridade do cilindro, de modo que ele não vá explodir ao ser carregado. Além disso, ele pode acumular água, e se for esse o caso, tem que ser esvaziado completamente para retirar essa água de lá, sob pena de haver início de corrosão, e consequente dano estrutural. Enfim, o cilindro é coisa séria, e deve ser tratado como tal. Por isso mesmo seu custo é alto. Sua grande vantagem reside na facilidade de uso. Até este momento, ainda não me convenci a comprar um.

Na próxima parte, vou comentar um pouco mais sobre a questão que mais me atiçou a entrar no Lado Negro da Força: será que as PCPs são realmente tão mais precisas e potentes que as carabinas de pistão-e-mola?

Até lá, bons tiros.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Como atirar bem com sua Carabina de Pressão



Fato: a maioria dos atiradores acredita que se deve atirar com carabinas de ar e de fogo do mesmo modo. Erro clássico que leva à decepções, falta de interesse e geralmente em generalizações, do tipo "carabina de pistão-e-mola não são precisas".

É uma pena, pois muita carabina de ar por aí, de potência apenas mediana, é capaz de atirar muito melhor de que carabinas .22LR. Até bem pouco tempo atrás, se competia em alto nível usando  apenas carabinas de pistão-e-mola, e não estou falando de Gas Rams...

Existem alguns fatores a considerar quando você vai atirar com uma carabina de ar, especialmente as de pístão-e-mola, mas que também valem para todos os tipos de mecanismos. Como a imensa maioria das carabinas de ar vendidas no mundo são do tipo pistão-e-mola e de cano basculante (break-barrel),  é nesse tipo de ação que vou me concentrar neste post, mas lembre-se que muito disso também é válido para outros mecanismos.

O que é precisão?

Primeiramente, vamos nivelar nosso vocabulário. Precisão e exatidão são dois termos que, se olharmos em algum dicionário, você verá serem usados como sinônimos. Mas, na Engenharia (eu sou Engº Mecânico de formação), os termos têm aplicações técnicas distintas.

Precisão (Precision) é definida como sendo a proximidade de uma medição em relação à outras medidas tomadas. Ou seja, o quão próximos entre si estão vários valores medidos.

Exatidão (Accuracy) é a proximidade de uma medida em relação a um valor de referência.

Essas definições valem tanto para medições de peso feitas em um laboratório quanto para resultados de nossos tiros em alvos de papel.

Veja a imagem abaixo.



O primeiro alvo da esquerda mostra alta precisão e alta exatidão, ou seja, os tiros estão todos no centro e todos muito próximos entre si. Já no segundo alvo, a precisão continua alta, mas a exatidão não, pois os tiros caíram fora do centro (valor de referência). No terceiro, os tiros estão mais dispersos, porém continuam centrados ou seja, baixa precisão, mas alta exatidão. Por fim, no último alvo da direita, temos alta dispersão e fora do centro, ou seja, baixas precisão e exatidão.

Como atiradores, intuitivamente sabemos que, ao encontrar um alvo como o segundo (alta precisão-baixa exatidão), basta ajustar as miras e você terá o resultado ideal, portanto, um bom grupamento é essencial (alta precisão). Um situação como a exemplificada no terceiro alvo não é a ideal, pois a dispersão indica uma variabilidade de resultados que podem nos levar ora a acertar bem no centro do alvo, como também acertar bem longe deste. Daí a importância dos grupamentos bem fechados e pequenos.

Portanto, quando falamos aqui em precisão, é isso que estamos buscando: grupamentos pequenos, sem necessariamente importar o local do alvo onde ele esteja. Um alvo como o segundo, nesse exemplo, para nós é em princípio, suficiente. Depois veremos os fatores que afetam a exatidão, e que podem surpreender a muitos.

Tolerância

Ainda resgatando minha experiência como Engenheiro, deixe-me explicar um pouco sobre o que é tolerância. Toda a peça técnica é desenhada tendo um conjunto de medidas que a descrevem para quem for fabricá-las. Produzir essa peça com medidas exatamente iguais às do desenho é possível, mas provavelmente será muito caro. Por isso, aceitam-se variações dessas medidas, para mais ou para menos. Isso é chamado de tolerância.

Pegue por exemplo um cano. Um diâmetro é especificado como sendo de 6,01mm +/- 0,01. O que significa isso? Que esse cano pode ter uma medida variando de 6,00mm até 6,02mm. Qualquer medida fora desses valores e a peça não será aprovada. Claro que, quanto mais apertada forem as tolerâncias, maior será a dificuldade de produzir peças dentro dos valores especificados.

Isso é um dos indicativos do porque certas armas do mesmo fabricante e do mesmo modelo e calibre apresentam resultados diferentes entre si. Quanto maiores forem as tolerâncias permitidas pelo fabricante, maior será a diferença entre o desempenho delas.

Se você pensar que também as munições foram produzidas tendo uma faixa de tolerância, fica fácil entender o que está acontecendo quando você testa um novo tipo de chumbinho, por exemplo. Se seu cano tinha (para continuar no exemplo acima) 6,02mm de diâmetro interno, e o chumbinho comprado por você tinha 6,00, a folga existente não permitirá que ele se ajuste ao cano e sua precisão provavelmente não será boa o bastante.

Claro que o exemplo acima é apenas didático, e as tolerâncias de peças como canos e projéteis são muito mais fechadas, e isso é parte do segredo industrial de cada fabricante, portanto você não encontrará essa informação facilmente no Google.

Agora que entendemos o que é Precisão, Exatidão e Tolerância, podemos começar a avaliar os fatores que direta ou indiretamente afetam nossos tiros.

Fatores que afetam a precisão

Normalmente eu identifico cinco fatores que afetam a precisão e exatidão do tiro numa carabina de ar. Estou aqui me referindo somente aos fatores internos da carabina, e não vou aqui comentar sobre a balística externa, ou seja o que acontece com o projétil depois que ele sai do cano até que ele chegue ao seu alvo. Vamos nos concentrar primeiro na balística interna, ou seja tudo o que acontece entre o premir do gatilho até que o projétil deixe o cano. Há ainda a balística terminal, que trata do que acontece a partir do momento em que o projétil toca o alvo até sua parada completa.

Qualidade do Cano: Já vimos que as tolerâncias de fabricação são um fator chave, mas a qualidade de um cano não está somente em ter tolerâncias apertadas, mas também a uniformidade do diâmetro, do raiamento, da coroa (a "boca" do cano, onde termina o raiamento). Somente quanto ao raiamento, podemos afirmar que parâmetros como a profundidade das raias, o passo do raiamento e o acabamento (se mais rústico e com cantos vivos ou mais arrendondado e polido) todos afetam o tiro. E tem ainda as medidas da câmara, o alinhamento desta com o cano, a profundidade, o ângulo do cone de forçamento, etc, etc, etc... É longa a lista.

Qualidade e Tipo do Chumbinho: Todos os que leram qualquer linha a respeito devem ter tropeçado em artigos sobre a seleção de chumbinhos. A variedade é enorme, e saber qual chumbinho vai se dar melhor com aquele cano que está montado na sua arma é um senhor desafio. Isso porque as variações inerentes à produção de um cano se multiplicam na produção de milhões de chumbinhos. Obviamente que, produzir esses milhões de chumbinhos com tolerâncias apertadas tem um alto custo. Posso concluir que um chumbinho mais caro deve ter um desempenho melhor, certo? Não necessariamente, pois o fabricante pode ter definido as medidas destes chumbinhos e serem incompatíveis com as tolerâncias do seu cano. Por isso, não fique chateado, mas você pode sim comprar um chumbinho bem caro e não ter resultados bons em sua arma, o que não significa que este seja um produto de baixa qualidade.

Vibração no Ciclo de Tiro: Esse é um fator que afeta especialmente as armas de pistão-e-mola. As armas pneumáticas, sejam elas PCP ou Multi/Single Pump tem alguma vibração e recuo, mas é quase imperceptível ao atirador, devido ao peso da arma em relação ao peso do projétil. Então vamos nos concentrar no que acontece com armas de mola. O problema todo se resume a um fato: quando você puxa o gatilho, este desarma um pesado pistão que é impulsionado por uma pesada mola. Todas essas peças grandes e pesadas estão em movimento antes que o chumbinho sequer comece a se deslocar. Ou seja, até que ele saia do cano, a vibração da arma estará influenciando a trajetória do projétil.
Qual então é o segredo para um bom tiro? Devo mandar minha arma para algum armeiro que tem a receita para eliminar a vibração da minha carabina? Bem, você até pode fazer isso, mas não há como, fisicamente, eliminar a vibração. Pode-se atenuá-la, mas você tem que aprender a viver com ela. E como se faz isso? Você já deve ter assistido a filmes de guerra e visto grandes obuseiros atirando não? Eles tem uma vibração e um recuo num nível muito superior ao da sua arma, e no entanto são perfeitamente capazes de acertar um alvo a quilômetros de distância com precisão e exatidão. Como? Acontece que o obuseiro é deixado para vibrar livremente durante o tiro.



Você deve deixar que sua carabina faça o mesmo. Apoie apenas levemente a arma em sua mão, preferencialmente colocando a mão fraca (a mão esquerda de um atirador destro) espalmada  próximo ao ponto de equilíbrio da arma, que normalmente é logo a frente do guarda-mato ou próximo dele. Segure o grip bem de leve, quase sem tocar mais que dois ou três dedos, e mal encoste a soleira no seu ombro. Se atirar apoiado em uma bancada, nunca apoie a arma diretamente sobre o rest ou sobre sacos de areia, alvos, livros ou qualquer outra superfície. A arma deve estar sobre a sua mão. Em algumas armas mais sensíveis atiradores experientes usam apenas dois dedos para apoiar a arma. Variando um pouco a posição da mão fraca, você encontrará o ponto ideal para a sua arma. Marque-o com fita adesiva para se lembrar onde colocar a sua mão.

Peso do Gatilho: Numa arma de fogo, nós sabemos que o peso do gatilho tem grande influência no tiro. Brigar com um gatilho pesado e arrastado é uma "sofrência" que em nada ajuda a manter a concentração e o alinhamento das miras. Bem, o que acontece é que, ao contrário das armas de fogo, onde normalmente o gatilho somente segura um cão ou um percussor, nas carabinas de ar há todo o sistema de pistão-e-mola sendo retido pelo sistema de gatilho. Ou seja, ou o gatilho tem uma alavancagem que nos dá um peso leve, ou você sentirá que precisa de um alicate para apertá-lo. Por isso mesmo, muitas carabinas de pressão são fabricadas hoje com gatilhos reguláveis. meu conselho aqui é: seja muito cuidadoso. Vejo muitos gatilhos trabalhados por ditos "especialistas em tunning" que acabam ficando inseguros. Trabalhe dentro dos limites do razoável.

Miras: Dá para escrever um artigo inteiro só sobre miras, especialmente as lunetas. É muito comum no Brasil ouvir que determinada arma tem potência tão elevada que não deve ser usada com miras telescópicas. Na verdade, o que essas pessoas ainda não entenderam é que não é a potência da arma que destrói a sua luneta, mas sim a vibração excessiva na hora do tiro. Até a década de 1980, as carabinas de ar eram muito menos potentes do que as atuais, e ainda por cima ninguém usava lunetas nelas. Até que na década de 1990 tudo isso mudou, e hoje, além das carabinas serem (algumas) extremamente potentes (e "vibrantes", e não num sentido positivo!), todo mundo quer usar lunetas.  Como resolver isso? Primeiramente, use lunetas apropriadas para carabinas de ar. Use suportes e anéis robustos. Use um batente robusto, que realmente impeça a base de se deslocar para trás durante o tiro. E, se ainda assim sua mega-master-blaster-ultra-magnum carabina de ara continuar a destruir alvos e lunetas, pense em fazer um alívio na mola. Você perderá alguma velocidade, claro, mas vai ganhar muito mais ao conseguir manter o zero de sua luneta intacto após uma longa sessão de tiros.
Há um outro detalhe sobre miras: durante seu ajuste, se para zerar a sua luneta você teve que usar todo o limite de regulagem para a direita ou para cima, sua luneta pode estar enfrentando um problema de falta de pressão nas molas que sustentam o retículo. Use espaçadores entre os anéis e a luneta para que o zero seja obtido em um ponto mais central no curso das duas torretas.

Um carabina de ar bem ajustada é capaz de colocar tiro sobre tiro a distâncias surpreendentes. Se você souber tratar bem de sua carabina de pistão-e-mola, seja ela de mola metálica ou Gas Ram, ela vai lhe dar ótimos resultados, desde que você não tente transformá-la naquilo que ela não é. Muita gente no Brasil reclama mais de que sua carabina não é capaz de perfurar determinado material, quando na verdade deveria se preocupar primeiro se você é capaz de acertar o alvo, depois o que vai acontecer com ele. Uma carabina muito potente que não acerta o alvo não vale nada.

Aprenda a atirar com sua carabina antes de mandá-la para algum tunning. Use todos os seus recursos antes de substituir uma mola ou um gatilho. Você verá que às vezes as soluções estão bem dentro do seu alcance, sem grandes investimentos.

E assim sobrará mais dinheiro para você comprar mais chumbinhos, de melhor qualidade e em maior quantidade.

E bons tiros!

terça-feira, 17 de março de 2015

O FN FAL




O FN-FAL em sua versão mais básica.


Caros amigos, começo hoje uma série de posts sobre um dos fuzis mais icônicos da história: o FN-FAL.

Considere-se que os 3 fuzis mais produzidos em toda a história são o AK-47 e seus derivados (chegando, segundo algumas fontes, a cerca de 75 milhões de unidades produzidas), seguido de longe pelo AR-15/M-16 e seus derivados (com algo em torno de 8 milhões), e o FAL (com cerca de 5 milhões de unidades). Somente uns poucos lugares do mundo ainda produzem o FAL, nenhum deles em larga escala, enquanto os outros dois seguem em produção e seus números tendem a crescer a cada ano.

O FAL foi em um determinado momento o fuzil mais importante do mundo ocidental, então em uso por 90 países do mundo. A sua história começa ainda na Segunda Guerra Mundial, e teve reviravoltas intrigantes. Foi também o nosso fuzil padrão da Forças Armadas, e sobre isso nós escrevemos um post, Os Fuzis em Serviço no Brasil - Parte 1.

O FAL não é um fuzil de assalto, é mais apropriadamente descrito como um fuzil de batalha. Isso se deve ao fato da potência de seu calibre o famoso 7,62X51mm NATO. Algumas pessoas discutem ainda se o FAL, assim como seus contemporâneos M-14 e HK G-3, devem ser chamados de fuzis de assalto ou de fuzis de batalha.

Nessa série, vou contando aos poucos a história do FAL, que muito me fascina, e também vou descrever dois derivados dele,tanto para o Airsoft como para Carabinas de Pressão.


O Para-FAL, versão mais curta e mais leve, adotada por paraquedistas e outras tropas especiais.

O Início

Ao final da Segunda Guerra Mundial, os exércitos já haviam se convencido de que os antigos fuzis de ferrolho, acionados manualmente para cada tiro, já tinham virado história. Novos fuzis semi-automáticos tinham mais rapidez, maiores capacidades e eram tão precisos quanto os de ferrolho, pelo menos nas mãos de soldados comuns (em relação à atiradores de elite, isso ainda geraria muito debate). Os EUA tinham conseguido introduzir com muito sucesso seu M-1 Garand, e este era considerado o melhor fuzil do conflito (pelo menos para os EUA). Outras nações porém não ficaram paradas no tempo, e também introduziram seus próprios modelos de fuzis semi-automáticos, como os soviéticos SVT-38 e SVT-40.

Foram os experimentos alemães porém que mais avançaram no sentido de realmente criar uma arma inovadora. Inicialmente com modelos mais tradicionais, como o G-41 e o G-43, os alemães haviam "radicalizado" com a estupenda FG-42. Essa arma tinha sido desenvolvida para prover ao paraquedista alemão (daí seu nome: Fallschirmjägergewehr 42) uma arma que pudesse cumprir as missões tanto do fuzil Mauser K-98 de ferrolho quanto o da MG-34, uma metralhadora alimentada por fita, tudo isso num pacote menor, mais leve, e alimentado por carregador tipo cofre metálico.


A FG-42, adotada pelos paraquedistas nazistas, visava substituir tanto os fuzis Mauser como as metralhadoras MG34.

O sucesso dessa arma foi apenas relativo: apesar de ser temida pelos inimigos, seu uso foi restrito aos
Fallschirmjäger, que em seu uso tinham que segurar o recuo de 20 tiros sequenciais da potente 7,92X57mm. Enquanto é fácil de se apaixonar pelo design da FG-42, a verdade é que na prática a arma tinha sérios problemas gerados, principalmente, pelo recuo excessivo.

A solução desses e de outros problemas veio com um outro radical desenho alemão: o Sturmgewehr StG-44. Usado extensamente chapas metálicas na sua construção, o StG-44 apresentou o que seriam as bases para todos os novos fuzis a partir de então:

1) Alimentação por carregador tipo cofre de alta capacidade
2) Capacidade de fogo semi- e totalmente automático (tiro seletivo)
3) Uso de munição intermediária entre fuzil e pistola.

Essa última característica veio à luz quando o Exército alemão percebeu que seus soldados se engajam em combate a distâncias  muito mais curtas do que as preconizadas à época do desenvolvimento de armas como o Mauser K-98. Ao invés dos 2000m de que eram capazes os K-98, os soldados modernos abriam fogo a partir de 300m. Não apenas eles estavam com uma arma muito mais potente do que precisavam, mas também inadequada, na medida em que não se prestava ao volume de fogo exigido de uma situação de combate mais próxima.


O StG-44 alemão foi o pioneiro fuzil de assalto do mundo.

Ao fim da guerra, todos os exércitos observaram os experimentos alemães com muita atenção, e foi na União Soviética onde o conceito foi mais imediatamente compreendido e assimilado. Já em 1943 haviam os soviéticos tido contato com aquele novo conceito alemão, e talvez por isso tenham ficado mais impressionados. Talvez fosse pelo fato de que seu Exército já fazia uso de milhões de submetralhadoras e a nova arma era superior a essa em tudo, mantendo a facilidade de uso. O fato é que em 1947 nascia o mais famoso fuzil de assalto do mundo: o Avtomat Kalashnikova 47, ou simplesmente, o AK.

Enquanto ainda estavam extasiados pela vitória e confiantes de que seu M-1 Garand de 1936 era o melhor fuzil do mundo, os EUA, líderes do novo mundo ocidental que começava a se desenhar, viam pouca ou nenhuma necessidade de mudança. Seus parceiros europeus já não viam o mundo com tão bons olhos. Para balancear a ameaça dos AK-47, o Ocidente precisava de uma resposta, e essa resposta foi o FAL.

Mas a história do FAL não foi apenas de engenheiros trabalhando até aperfeiçoar um modelo que todos acabaram comprando, felizes. Houve reviravoltas, espionagem, fugas no meio da noite, e até oficiais de alta patente sabotando testes para garantir seu insucesso. Essa é a história do FAL, o fuzil do ocidente livre.

Qual calibre?

Após a Segunda Guerra, as noções ocidentais se juntaram numa aliança das nações democráticas para fazer frente à ameaça soviética, que não havia desmobilizados seu Exército e tomava o leste europeu. Esta aliança tomou forma em 04 de Abril de 1949, sob o nome de Organização do Tratado do Atlântico Norte, ou NATO, em inglês. A padronização era a palavra de ordem, já que cada nação havia entrado no conflito com seus equipamentos nacionais e o pesadelo logístico que se seguiu tinha que ser contornado.


Nesta imagem vemos o 7,62X51 ao lado de verdadeiros calibres intermediários. Pode-se facilmente notar que seu estojo tem muito mais capacidade e potência que os demais.

O desejo das nações aliadas era a de escolher um único modelo de fuzil que seria adotado por todos os países da aliança e em um único calibre, o que facilitaria as coisas. A pergunta era: qual calibre escolher? Ingleses já trabalhavam num calibre menor, .276, enquanto os belgas tinham visto e trabalhado sobre o alemão 7,92X33mm do StG-44, e outras variações do tema foram surgindo. Os EUA, porém relitavam em abandonar seu calibre .30-06, e não admitiriam nada inferior a isso, acreditando que cada garoto americano era um rifleman nascido e criado com um rifle de caça ao seu lado e capaz de lidar facilmente com calibres deste nível. Além disso, o Garand era uma obra de arte da Engenharia moderna, enquanto aquele fuzil novo alemão era feito de lata estampada e não chegava aos pés da qualidade do M-1.


Diferentes versões do FAL. Note a mira SUIT que equipa um dos fuzis.

Essa visão, arrogante, diga-se de passagem, teve um peso enorme nas decisões que foram tomadas a seguir. Tendo sido convencidos a adotar um calibre de no mínimo .30, os designers foram rapidamente vencidos até que se chegasse a um calibre que era pouco mais curto em comprimento que o .30-06, mas que balisticamente quase nada devia a este. Nascia o 7,62X51mm.

Com a decisão tomada, a primeira vítima foi a proposta inglesa: tendo sido desenvolvido para um calibre menor, o revolucionário EM-2 não seguiria em frente por não acomodar o novo calibre 7,62mm. Um pena: o novo fuzil inglês era um bullpup, muito avançado para sua época, e seu conceito somente voltaria a tona na década de 1970, quase 30 anos após.

Ficaram na disputa por um novo fuzil os americanos, com uma versão aperfeiçoada do M-1, e os belgas, que desde 1940 trabalhavam em conceitos para fuzis automáticos, chefiados por Diedonne Saive, que havia trabalhado antes com John Moses Browning. Claro que a época não podia ser pior para os belgas, já que seu país fora invadido pelos nazistas, e Saive e sua equipe tiveram que fugir para escapar do domínio alemão. Levaram consigo os desenhos e projetos de sua nova arma para a Inglaterra, onde Saive ofereceu seus serviços. Mas eram tempos difíceis para os ingleses também e ninguém ali ia ficar experimentando coisas em tempos de necessidades extremas.

Após a guerra, Saive e equipe voltaram à Bélgica, onde completaram o desenvolvimento daquele que seria o SAFN 49, um fuzil que, como outros antecessores, também tinha características conservadoras, como uma coronha de madeira e magazine de 10 tiros. Saive, porém não ficaria deitado nos louros desta invenção, e logo partiu para um design mais moderno e eficiente.


O "pai" do FAL, o fuzil SAFN-49.

Saive testou vários modelos, inclusive um que também era um bullpup, como o EM-2. Abandonando essa ideia, os belgas se concentraram em uma ação inspirada nos modelos SVT soviéticos, e que inicialmente aceitava a munição 7,92X33mm. Após a adoção do 7,62X51 NATO, os belgas rapidamente adaptaram seu novo design a calçá-lo, o que levou seu projeto ao limite do aceitável para uma arma daquele peso. Dotado de um carregador tipo caixa de 20 tiros, a arma tinha seletor para tiros intermitentes e para rajadas, ainda que a potência do novo calibre quase tornasse-a incontrolável nesse regime.

Disputando com os belgas estavam os americanos. com seu novo T-44. Ambos passariam por rigorosos testes antes de ser adotados pela NATO como seu fuzil padrão. Mas os americanos não estavam preparados para uma derrota e dificultaram ao máximo a dotação do FAL. O ápice da estratégia americana de boicotar o modelo belga se deu em Dezembro de 1953, quando protótipos dos dois fuzis foram mandados à Fairbanks, no Alasca, para testes de inverno. As armas belgas foram encaixotadas e mandadas direto para lá, enquanto os T-44 deram uma paradinha "estratégica" na fábrica de Springfield, onde funcionava o arsenal americano responsável pelo projeto do T-44. As armas foram então cuidadosamente preparadas para enfrentar o rigor do Alasca, enquanto seu concorrente seguiu com a cara e a coragem. Obviamente, o T-44 bateu o FAL nos testes que se seguiram, não sem protestos do lado europeu.

Para evitar um mal-estar ainda maior, os EUA secretamente negociaram com os belgas prometendo-lhes que adotariam o FAL, enquanto por trás das cortinas continuavam o desenvolvimento de seu T-44. Logo após, em 1954, o Canadá se torna oficialmente o primeiro pais a adotar o FAL (nomeando-o C1), seguido rapidamente pela Inglaterra e pela Bélgica. Os EUA, porém, decidem escolher seu próprio design, que se torna o M-14. Todas as nações da NATO acabaram adotando o FAL, menos o país que os liderava. Apenas Taiwan, fortemente financiado pelos EUA, adotaria o M-14 em largas quantidades (ainda que pequenas dotações fossem registradas em alguns países), enquanto 90 nações escolheriam o FAL, dentre elas o Brasil.

Assim, começava o reinado do FAL como o fuzil padrão ocidental. Mesmo não encontrando apoio americano, as qualidades do FAL logo se mostraram aos soldados que o carregavam, e as deficiências também. As maiores delas eram o longo comprimento da arma, o peso e o fato de que em fogo automático o fuzil era praticamente incontrolável. Essa última característica não é única ao FAL, seus contemporâneos M-14 e G-3 também o são, fruto da decisão pela adoção de um calibre que é excessivamente potente numa arma automática. Mesmo assim, o FAL continuaria atuando por décadas antes de ser substituído e ainda hoje tem seus fãs.

Na próxima parte, vamos mergulhar mais na história do FAL, das adoções por países e seu uso em conflitos, e os problemas relacionados a eles. Acompanhe nosso blog. Comente e deixe suas sugestões.

Até mais.